28/09/2012

Alter do Chão


Alter do Chão é um lugar muito especial. Tem qualquer coisa mágica nessas águas do Tapajós. As crianças daqui são lindas, correm livres e felizes pelas ruas e praias. Pais despreocupados com suas crias tocam seus negócios de bermuda e camiseta enquanto as crianças brincam perto das lojas/restaurantes. Há muitos turistas mas eles parecem ser o mal necessário do vilarejo. Uma vida multicultural e multirracial se instalou aqui. Tem índio Borari e os caboclos descendentes dos índios, tem alemão, espanhol, chileno, uruguaio, colombiano, suíço e até japonês. Aqui tem de tudo um pouco. 
Ontem fomos numa noite cultural no Candeeiro, o restaurante de um alemão (ou suíço, não sei ao certo) onde uma espanhola cozinhou e tocou flamenco e uma chilena dançou. Nunca na minha vida eu esperei ver uma noite cultural espanhola no interior do Pará, mas aqui em Alter tem tudo, tem vida, tem amor. Os filhos dos donos do restaurante vieram falar com Nuno, eles pegaram nas mãozinhas dele e olharam fundo nos olhos, não disseram nada, mas com os olhos parecia que queriam dizer “bem vindo”. Nuno tentou comunicação verbal, fez lá seus barulhinhos e abanou os bracinhos. Eles ficaram horas assim, se olhando. As crianças ofereciam o lápis de cor que estavam brincando a ele, ele segurava e largava logo fazendo sinal de que queria pegar outro. E assim ficaram quase a noite toda...
Eu tinha ido ao Candeeiro com Renata (que estava fazendo aniversário), a moça que me recebeu aqui em Alter, amiga de uma das meninas da Materna SP, Anne (que acabou de parir o Francisco) e magicamente na mesma mesa estava outra pessoa que outra das maternas tinha passado o contato, mas que eu nunca liguei, Kandy, que é amiga da Gabi (materna) também é amiga da Renata. E ainda na mesma mesa estava uma bailarina que mora em Lisboa, assim como minha prima portuguesa, Andréia também bailarina e também moradora de Lisboa. Ela não sabia ao certo, mas quando falei o sobrenome ela logo disse que sabe quem é. O mundo é mesmo um limãozinho galego! E esse vilarejo é mesmo Pai d’Égua!

a volta


Finalmente em Alter do Chão, um ano depois do planejado.
Engravidei em setembro de 2011, quando estava com passagem marcada pra Santarém. Eu enjoava horrores, vomitava o tempo todo, por onde ia tinha que levar sacos plásticos para os vômitos compulsivos. Perdi a passagem e fiquei cuidando da barriga que crescia (e ela ficou enorme) e eu pari meu filho no aconchego e respeito do meu lar, com apoio total do meu amoe e grande parceiro de vida, Rafa. O parto foi assistido por uma obstetriz, a querida Ana Cris Duarte e pela minha querida doula e também madrinha do meu filho Mariana de Mesquita. O pós parto foi tão bom quanto um pós parto pode ser.
Agora meu filho está com quatro meses, lindo e gordo, pesando mais de 9kg apenas de leite materno. Muito planejamento, uma tentativa de embarque frustrada por conta de uma febre misteriosa do Nuno, adiei a viagem mais uma vez, mas duas semanas depois consegui embarcar, feliz por estar voltando oficialmente ao trabalho. Com uma mala enorme emprestada da minha sogra - a maior mala que já carreguei na vida – e tantas coisas nela que parece exagero, mas “melhor prevenir que remediar”, não? Trouxe três redes, cordas, corda para varal pra estender roupas, balde de banho dele, um rabo quente pra aquecer água pro banho (aqui todos os chuveiros são duchas simples sem aquecimento), muitas roupas (muitas mais do que o necessário, já que estou lavando as que usamos e no final usamos pouca roupa mesmo devido ao calor), 16 fraldas de pano com seus respectivos recheios, muitas fraldinhas Cremer pra garantir... Um verdadeiro exagero, mas me senti melhor por cometer o exagero, ou sairia de são Paulo com aquela terrível sensação do “estou esquecendo algo muito importante e vou morrer sem isso!”, eu sou dramática.
Anne, do Francisco, uma das maternas, me passou um contato aqui em Alter, Renata, um moça linda e atenciosa, me recebeu de braços abertos e já me apresentou pessoas para entrevistar pro trabalho. E as coisas que estavam super nebulosas começaram a clarear. Já entrevistei um senhor que é o capitão do Sairé, uma festa que acontece por aqui há mais de 300 anos e tem uma bebida feita da mandioca, a tiquira.
Até agora tudo vai bem, Nuno está ótimo, dorme muitas vezes no dia e a noite toda até de manhã cedo. Não senti necessidade de uma babá, mas já tenho pistas pra achá-la se achar necessário em algum momento. E assim vamos, slingando por Alter do Chão, chamando atenção de turistas e moradores que ainda se comovem vendo uma mãe e seu bebê tão ergonomicamente juntinhos e felizes caminhando pelas praias do Tapajós.

21/09/2011

quatro e vinte

Apesar de toda poluição que assola a cidade os pássaros não têm asma, cantam alto.
Os caminhões roncam na Ricardo Jafet, já é dia pra muita gente.
Pra mim, era hora de estar no último sono, mas ele, desonesto que só, furou a fila.

08/09/2011

bicão

Quando tudo parece estar do avesso, como um Katrina no centro da minha vida, me lembro da minha bisavó que me ensinou a rezar o terço ajoelhada no pé da cama antes de dormir e depois olhar pra cima e dizer: "que Deus me proteja de todos os males, amém."
No final da oração chega um desgraçado que não foi convidado pra festa trazendo uma caixa de presente dourada, dentro dela há a cabeça ensanguentada de Deus.
Valeu Nietzsche, era tudo que eu precisava pra hoje!

06/09/2011

uma gota na bacia amazônica

Quando comecei a escrever este livro tinha a ilusão de que mudaria algo, de que ajudaria a população da Amazônia resgatar sua cultura, sua auto-estima. De que ajudaria de alguma forma a conscientização destas pessoas que vendem suas árvores a troco de banana, de que este livro daria uma nova visão aos que ainda não entenderam que sustentabilidade na Amazônia tem a ver com manter viva a cultura, que sempre foi de preservação, desde muito antes destas palavras entrarem em voga, quiçá delas existirem nos dicionários.
Hoje vejo que nada disso será possível com meu livro, que ele é apenas uma mini partícula num oceano de desenvolvimentismo a la anos 50, pagamentos de campanhas eleitorais, e interesses do agronegócio e grandes mineradoras.
Mas continuo trabalhando arduamente, espremendo meu corpo e alma em troco desta gota, que por menor que seja, é o melhor que posso fazer por essa gente e esta terra que tanto me encantam.

25/05/2011

ditadura da ignorância

Não sei nem se o termo que coloquei como título tem autor, por pura ignorância da minha parte - essa eu achei inofensiva. Fato é que me sinto assim, num país tomado pela ditadura da ignorância.
É como se o que eu digo nada fizesse sentido às pessoas à minha volta, alguns me tomam por chata, outros fazem piadas de algumas coisas que digo - coisas sérias e que merecem a atenção de qualquer paspalho que respira o mesmo ar que eu!
Sinto que vivemos uma ditadura às escondidas. Os jornais noticiam apenas o que lhes é conveniente, não tem mais explosão de banca que vende O Pasquim, mas a falha na informação acaba na mesma equação.
Além disso, as pessoas ouvem apenas o que lhes é conveniente, o que não lhes causa incômodo, normalmente por pura preguiça de conhecer o assunto. E assim vamos, ignorando assuntos que afetam diretamente nossas vidas, ou sendo contrários a eles para não nos sentirmos muito ignorantes e alienados: “fala demais por não ter nada a dizer” - Índios, do Renato Russo. 
A parte que falta é sempre o espelho: “nos deram espelhos e vimos um mundo doente”


25/04/2011

Uma das formas de felicidade é essa sensação que tenho agora: a plena certeza de que não devo nada à ninguém, de que sou a pessoa certa para fazer o que me propus a fazer, porque é isso que eu escolhi, e fim!

nota aos reis e rainhas da carreira acadêmica

Sou formada em xeretologia e agora estou no Pará, fazendo minha pós em "ciencias do nariz adentro na cultura paraense".
Porque é isso que eu sou, uma xereta, e essa é a melhor formação que eu poderia ter. É "pura paixão" pela cozinha que me fez chegar até aqui - assim brega mesmo!
E é isso, quem me discriminar por eu não ter uma formação ou uma carreira acadêmica pode ficar com seu dedinho no cú sentado no seu troninho academico publicando artiguinhos pros coleguinhas nessa eterna punhetação.
Morram com todo o conhecimento imbecilizado que conseguiram nessa vidinha de merdacadêmica!
Grata.

24/04/2011

O Pará com chuva me lembra um episódio de Star Trek que vi quando criança e passava na falecida "tv Manchete" aos sabados a tarde: Capitão Kirk desce num planeta onde só chove, ele não pode tirar a roupa de proteção, lá pras tantas começa a sentir dores de cabeça com o barulho da chuva no capacete...
Por sorte aqui a chuva é quente, uma chuva boa que dá vontade de sair andando por aí.
Não consigo entender porque aqui as pessoas presam por não se molhar e andam de guarda chuva quando saem, e nas cidades tudo pára e só volta a funcionar depois da chuva.
Quando ando pelos interiores tenho a impressão de estar num país como o Nepal, apesar de nunca ter ido ao Nepal nem a nenhum outro país da Ásia.
Aqui se fala o "português paraense" (sim, o paraense não fala o mesmo português que nenhum outro brasileiro) que tem uma sonoridade linda e termos incrívelmente criativos.
É maninho, esse estado pode ser mesmo bem Pai d'Égua!

19/04/2011

noticias direto da mata

Aqui é inverno, mas na verdade o calor continua, a diferença é que tem chuva agora, e mofo, muito mofo por onde quer que se vá.
No final de semana, sinusite atacada mas logo controlada com loratadina, direto de Cachoeira do Arari, que tem duas farmácias, praticamente mais medicação que doente.
O que me incomoda bastante são as perebas vermelhas que apareceram em região desfavorecida...
Espero que os fugos amazonicos sejam bacanas comigo.
Uma noite me Belém e volto pro interior hoje e lá vai mais uma semana sem conexão.
Me desejem sorte e fungos, que enquanto é fungo tá bom!

02/03/2011

dentistas 1 x ginecologistas 0

Sempre que um homem reclama de ir ao dentista digo que é porque ele nunca teve que deitar naquela cadeirinha de ginecologista, ficar em posição de rã no cio, ser apalpado e ter objetos introduzidos com fins científicos.
Dia desses jurei nunca mais me consultar com um ginecologista que não tenha útero - nada contra os transexuais, mas só quem nasceu mulher pode saber o que é ter cólica, displasia mamária e TPM, entre outras aberrações do organismo feminino.
Mesmo com essa restrição, não tinha achado uma médica com sensibilidade o bastante. Mas hoje, depois de duas horas e quinze na sala de espera, achei a fulana que vai cuidar de mim e dos possíveis rebentos.
Pela primeira vez na vida deitei naquela cadeira e não senti incômodo, dor, constrangimento ou tudo isso ao mesmo tempo.
Finalmente estou liberada para xingar o dentista!

18/02/2011

sugar addicted

Parando de ingerir açúcar me dei conta que sou uma dependente química.
Tem dias que tremo um pouco, travo o maxilar, tenho palpitações, noutros não quero sair da cama, só dormir, dormir e dormir.
Sou uma açúcarnômana!
E hoje eu deslizei, tomei um copo de leite carregado no nescau e até respiro melhor agora.
Mas não contem a ninguém, se Kassab souber vai querer proibir o açúcar nas feiras e fachadas da cidade.
O que será de João e Maria?

10/02/2011

Auto do Cirio

Achei umas fotos perdidas do "Auto do Cirio", uma festa cultural que acontece toda sexta feira antes do sábado da trasladação da Santa, na Igreja da Sé em Belém - PA.





Com direito a pipoca e algodão doce, lembrando a infância...

07/02/2011

Dia de índio

Amanhã no Masp, às 8h, protesto contra Usina Hidrelétrica Belo Monte, que vai tirar mais de 40 mil indígenas de suas terras e centenas de famílias de ribeirinhos que vivem na região do Rio Xingu.

No palácio do planalto, no mesmo horário, lideranças indigenas e a AVAAZ entregarão uma petição com 500 mil assinaturas contra Belo Monte e as mega-usinas na Amazônia.

Aqui em São Paulo pintaremos a cara como os Jurunas, Araras e Kaiapós (reservas indígenas mais afetadas com o projeto Belo Monte) e distribuiremos panfletos pela cidade.

Venha protestar e pintar a cara de índio, ajude a evitar esse massacre social, ambiental e cultural.

Dia 8 de fevereiro às 8h no vão do MASP.
Atenção: Estaremos no vão do MASP protestando até meio dia.
Foto de Verena Glass 



http://www.xinguvivo.org.br/
http://xingu-vivo.blogspot.com/2011/02/convocatoria-0802-grande-ato-em.html

03/02/2011

Protesto contra Belo Monte

Em São Paulo:
Av. Presidente Juscelino Kubitschek, 510
Vila Nova Conceição
04543-906 - São Paulo - SP
Amanhã, sexta dia 4 de fevereiro, o meio dia.
Quem me acompanha??


Os protestos são importantes no Brasil todo, veja os endereços em outras capitais: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/O_BNDES/Telefones_e_Enderecos/atendimento_empresarial.html

01/02/2011

Eu advogada de mim

Sempre mantive a distância necessária dos jornais ou qualquer outro meio que me colocasse a par de muita coisa desse mundo.
Eu sou sensível e posso perder noites, dias, e se deixar a vida, preocupada com a seca em Ibitipoquinha do Oeste, a fome no Zimbábwe, os clítores do oriente médio...

Mas eu não precisei ler nenhum jornal ou site de notícias pra saber o que está acontecendo no Xingu.
A luta fundiária lá já dura décadas e sempre foi algo que tomei distância emocional.
Porém, depois de cair de paixão pela amazônia paraense (a parte da amazônia que conheci) não consegui evitar.

O governo brasileiro está passando um rolo compressor pra começar a contrução da UHE Belo Monte ainda este ano. Haviam 40 condicionantes ambientais para serem realizadas, 29 questões indígenas para serem resolvidas, mas não se chegou à cumprir nem 5% disso.
O presidente do IBAMA se demitiu semana retrasada e semana passada o substituto legal do órgão assinou uma licença para construção do canteiro de obras que não é uma licença, porque a licença legal não pode ser dada.

Saiba mais sobre o "samba da licença doida" aqui.

E encerrando esta defesa de mim mesma, gostaria de dizer que o assunto me veio pela internet, os "jornalões" brasileiros apenas tratam Belo Monte como um grande disperdício de dinheiro e não como o massacre ambiental, social e cultural que é, portanto me sinto no dever de ajudar essas pessoas a não perderem suas terras. Indígenas e ribeirinhos que vivem daquele rio há centenas de anos. Tribos que nem mesmo conseguem se comunicar em português, falam línguas derivadas do tupi.

Por isso encho meu facebook de coisas relativas a isso e coloco aqui dois vídeos muito instrutivos sobre o futuro da Amazônia caso Belo Monte seja realizada:

Em Defesa dos Rios da Amazônia P.1

Em Defesa dos Rios da Amazônia P.2

Em inglês: Defending the Rivers of the Amazon, with Sigourney Weaver 

Informação completa aqui.

14/01/2011

o melhor carinho do mundo

Essa chuva me lembrou as xícaras escritas com "ch" no meu primeiro caderno de receitas. A primeira coisa que fiz num fogão foi ferver água e passar um café sob supervisão de um adulto. Depois tive autorização de fazer uma torta de banana para o aniversário do meu pai, um mês depois do meu aniversário de 11 anos.
Então vieram as receitas de bolo de fubá cremoso, torta de maçã, morango e um "estágio" na cozinha da minha avó paterna que era doceira de primeira: aprendi a fazer massa folhada, creme de confeiteiro, dar o ponto no chantily e fazer um delicioso pão de queijo digno de agradar à qualquer mineiro.
Minha outra avó que foi cozinheira profissional sempre tentou me dissuadir da idéia e só ao final da vida, quando viu que esse era meu caminho e não havia discussão, passou a me ensinar alguns truques de seu fogão luso-brasileiro.
E eu dava tudo, tudo, pra voltar num dia de 1980 e qualquer coisa e comer aqueles bolinhos de bacalhau únicos, aqueles "peixinhos da horta", os risoles, empadões e outros quitutes da minha avó, que não sabia dar beijos e abraços mas nunca negou carinho em forma da melhor comida do mundo!

11/01/2011

cada um com seus parafusos

Um sujeito vai sozinho e sem armas pra um território de leões na África, outro cara mergulha tentando fazer um tubarão branco entrar em "imobilidade tônica" enquanto passo as camisas 100% algodão do meu marido divagando sobre o texto que não consigo terminar e o projeto maior que eu em que me atolei.
Enquanto aquele cara na tv tenta virar o tubarão branco de ponta-cabeça, faço uma conta mambembe e envio à mim mesma, com duas cópias autenticadas, a data limite para engravidar.
Nessa hora vem a imagem da minha avó me dizendo:  "cada louco com a sua mania."

06/12/2010

faroeste de soja

Minha casa parece um campo de batalha de filme faroeste. No lugar dos fenos rolam pêlos embolados pra lá e pra cá. O arpirador de pó só volta da manutenção na quarta e eu procastino a faxina enquanto Bisteca e Milanesa se mordem de amores em meio aos milhares de brinquedos de cão e gato espalhados e os bolos de feno de soja.

Não sei de que mente brilhante veio a definição "de soja", mas eu adotei!

29/11/2010

Bisteca e Milanesa

Bisteca cata as pulgas de Milanesa e as vezes dá uma encoxadinha nela pra mostrar que é a fêmea alfa do pedaço. Milanesa tenta mamar na Bisteca, que sai correndo feito louca pela casa derrubando tudo.
Assim passam o dia, uma correndo da outra... Quando cansam deitam e dormem, e eu posso voltar a pensar.
Ninguém disse que seria fácil, mas ao menos é divertido.

25/11/2010

Maior ogulho dos meus amigos

Eu tava na mesa de bar em que Luana Vignon e Rodrigo Sommer descobriram uma vontade em comum: montar uma editora pra publicar os amigos tão talentosos que tem livros engavetados. "Panelinha mesmo, só os amigos que admiro e não conseguem publicar", disse Luana. Rodrigo concordou plenamente e daí veio o nome Panelinha Books, e uma semana depois eles eram três pessoas (com Jarbas Capusso) com um grande propósito: Fazer bem feito.
Me orgulho muito de estar por perto e poder dar uma mãozinha nesse trabalho tão bonito desses três.
Parabéns queridos!

Luana Vignon escrevendo dedicatórias no lançamento do seu livro de poemas na última terça: Os Tiros Vêm do Paraíso, e também lançamento da editora Panelinha Books.
Noite incrível.

sobre a vida e as pedras

Voltar pra casa é sempre muito bom: minha cama, minha casa, meu marido, minha cadela...
Mas além de desfazer a mala tenho que me desfazer toda e arrumar de novo.
Além de mim tem todo o material colhido da pesquisa e um monte de camisas amassadas, coisas fora do lugar, roupas sujas...  Uma casa, um marido, uma cadela, uma pesquisa e eu. Tudo rolando montanha abaixo até eu levar tudo pro lugar de novo num ciclo infinito...
Uma vida de Sísifo.

18/11/2010

dias assim, dias assado

Não existe consenso em Belém do Pará.
Um diz uma coisa.
Outro diz outra coisa.
Outro alguém diz mais uma coisa ainda.
Mas vem dois que dizem que não existe, nunca ouviram falar.
Então vem outro e diz que tá na minha cara, é só esticar a mão... Pra esquerda, não, não, mais pra direita agora...
Basicamente, no trânsito, não existe mão e contra-mão. Coisa mais normal do mundo é dar ré na contra-mão. Inclusive quem faz isso aqui é respeitado pelos outros motoristas porque está "manobrando". Também não existe um só nome pra muitas das ruas de Belém e é crime pagar o taxi que deu dezenove reais com uma nota de cinquenta. O taxista tem todo o direito de te agredir verbalmente e tentar dar o troco a menos.

Fora essa coisa do avesso ser o direito e o direito não se sabe mais, mas dizem que é o avesso, só que do avesso também se faz manga e gola e também vestido e vassoura... Não, não, vassoura não, vassoura se faz de piassava que dá naquela árvore... Ou é palmeira?!

Em dias assim, penso no transito de São Paulo, na poluição de São Paulo, na violência de São Paulo... E morro de saudades!

15/11/2010

Sabe aquele dia que você acordou de bunda descoberta?
Então, parece que Belém do Pará inteira acordou de bunda descoberta hoje...
Ainda bem que hoje já é amanhã, apesar da maldita insonia.

14/11/2010

Me embriaguei algumas vezes por felicidade. Desta última, foi numa conversa com um lindo casal, senhor Guerra e dona Adail, que me receberam em sua casa de braços e peito abertos. Conversamos longamente sobre a cozinha amazonica paraense. Me deram um número sem conta de informações relevantes e tiraram muitas das minhas dúvidas.
Ele adora a pesca, é engenheiro florestal e agronomo, nascido em Monte Alegre.
Ela é estudiosa da cultura paraense, sempre cozinhou muito bem, nascida em Santarém.
O casal tem quatro filhos com nomes indígenas, viveram a vida inteira juntos e nítidamente amam-se e respeitam-se.
Quando recém casados, foram morar no acampamento em que ele trabalhava como engenheiro florestal na construção de estradas na amazônia. Ele mostrou uma tela que ela pintou do acampamento e contou a história: ele escolheu o local do acampamento por imagem aérea, numa clareira no meio da mata. Foram contruídas as taperas de madeira e palha para abrigar o escritório e os dormitórios dos funcionários da obra. Lá chegando tiveram uma surpresa, o local era um cemitério indígena, mas alojaram-se ali de qualquer maneira, o acampamento já estava pronto. Tempos depois ouviram um assobio de indígenas se aproximando. Ele ficou louco achando que indígenas tinham vindo buscar sua esposa, loira e linda que era - e ainda é apesar dos anos. Na manhã seguinte, depois de uma noite de muito susto com disparos de armas de fogo para assustar a possivel invasão ao acampamento, um dos funcionários que trabalhou na extração da borracha foi correr em volta do acampamento para tentar descobrir quem eram os invasores. Voltou com a impressão de pés de diferentes tamanhos numa folha. Eram pés de homens, mulheres e curunins, a tribo veio inteira tentando visitar seus mortos...

10/11/2010

Da bênção da ignorancia

A sensação de impotência sobre a vida me afeta duas vezes: a primeira por ela mesma e a segunda porque não é prigilégio meu ser impotente diante da vida. Então me reprimo nesse sentimento porque a última coisa que quero ser é uma menina mimada.
Meu clima interno traz chuvas tórridas que junto a essa garôa paulistana faz meu coração ficar de ressaca.
Adoraria acreditar que "Deus quis assim", mas Deus não quer nada, eu bem sei.

04/11/2010

Felicidade

Eu tinha onze anos e voltava do colégio sozinha quando um carro entrou na contra-mão e quase me atropelou. Gritei um sonoro "imbeciiiiilll" e mostrei-lhe o dedo do meio - tive uma educação britânica.
O carro parou e eu entrei em pânico vendo que o motorista viria tomar satisfações. Do outro lado da rua vinha um garoto da minha sala, de pronto gritei o nome dele e acenei indo na direção da rua, ele atravessou a via e parou na esquina em que eu estava. Em pânico, segurei a mão dele, e antes que eu conseguisse contar o que estava acontecendo, o motorista, que era uma mulher descabelada e nítidamente na TPM, berrava tomando satisfações. Paralizada de medo, pedi desculpas, mesmo eu estando na faixa de pedestres e ela na contra-mão.

Ela berrava algo como: "vocês são todas assim, na hora do vamos ver correm pra eles, não sabem ser pessoas, não sabem ser mulheres, não sabem viver a própria vida!! ..."
E sem querer essa mulher mal-amada, desabelada e tepeêmica me salvou.
De alguma maneira esse episódio começou um processo em mim.
Foram longos anos pra conseguir reverter esse comportamento e me libertar definitivamente dessa figura masculina protetora, seja ela meu pai, namorado, marido, chefe...
Sei que hoje, finalmente, posso me lembrar disso e saber que sou a única responsável pela minha vida. Sou eu que dito as regras, erro ou acerto, não importa, o que importa é que vou com minhas próprias pernas.
E se isso tem um nome aposto que é felicidade!

03/11/2010

Na última viagem à Belém, fiquei um pouco irritada por dar de cara na porta da Biblioteca do Museu Emílio Goeldi, em reforma. Enviei um cordial e-mail (cordial de verdade!) perguntando quando poderia consultar o acervo da Biblioteca, dado que haviam alguns livros que sabia que só conseguiria lá. A resposta veio sem datas e dizia que deveria me dirigir a livraria do Museu e comprar os livros que custavam em média 20 reais - não muito mais caros que as xerox dos livros e teses que consegui na UFPa.
Deixei pra fazer isso por último e como já vinha trazendo vários quilos a mais de papeis na bagagem, achei melhor deixar pra próxima ida à Belém, na segunda quinzena de novembro.

Estou em São Paulo, atolada dos pés à cabeça nesse projeto, no meio de uma esticada sem fôlego, tentando voltar à tona quando vou checar meus e-mails esta manhã:

Prezada Sra. CAROL HELENA,
Temos o livro FRUTAS COMESTÍVEIS NA AMAZÔNIA em sua nova edição que foi revisada e atualizada. Seu relançamento foi feito em outubro passado. É uma belíssima publicação, que enviaremos como doação.
Em relação ao livro A PESCA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA, informamos que o mesmo está esgotado. Como nossa Biblioteca está fechada para reforma e os livros estão empacotados, torna-se difícil, no momento, atendê-la.
Solicitamos apenas, por gentileza, informar-nos por e-mail seu endereço completo para podermos enviar o livro FRUTAS COMESTÍVEIS.
Agradecemos antecipadamente e transmitimos nossos votos de apreço e consideração.
Cordialmente,
A****** R** F******
Depto. de Permuta - MPEG

Nessas horas não há outra explicação além dessas bem exotéricas: SINAIS!

14/10/2010

Diário de uma hipocondríaca

Acabo de ler um capítulo inteiro sobre insetos amazônicos a procura de algo na alimentação tradicional cabocla da Amazônia Oriental. Não descobri nada além do que já sabia, porém me coço inteira como se estivesse sendo atacada pelos insetos bizarros descritos no livro, e tenho tosse, como se minha garganta estivesse se fechando por alergias às picadas imaginárias.
Não quero nem pensar na fase seguinte da pesquisa: campo.

12/10/2010

Sexta-feira antes do Círio de Nazaré aprendi uma coisa muito importante: não preciso passar por otária em lugar nenhum nesse mundo.
Belem é repleto de mototaxis e aquele dia eu peguei um pra atravessar 3 bairros da cidade, sendo que a cidade inteira equivale à uns 5 bairros de São Paulo mais ou menos.
Apesar de ser a capital do Pará, Belém é um ovo, de codorna.
Tomei o mototaxi no bairro do Pedreira pra ir até o Bairro do Nazaré, no máximo quatro quilometros de distância, sendo generosa.
Entre perguntar se o mototaxista estava livre, colocar o capacete e subir na moto eu perguntei três vezes quanto sairia a corrida. As mototaxis não tem taximetro, creio inclusive que não são regulamentadas, ao menos esta que peguei não era. Ele não disse e eu não quis subir na moto até que ele disse com ênfase: "Não vou lhe cobrar a mais não!". Dei-lhe o benefício da dúvida e subi na moto, mas avisei lembrando dos ensinamentos de minha avó: "moço, o combinado não sai caro, hein?"
Eu já sabia que ele tentaria me extorquir e no caminho tentei fazê-lo desistir do plano inicial. Fui muito simpática, contei que sou cozinheira, que estou trabalhando aqui e não disse nada quando o desgraçado encostou desnecessáriamente a mão no meu joelho pra fazer pose pro amigo que encontrou no faról. Perguntei sobre a vida dele, perguntei da romaria dos motoqueiros, contei que estou ansiosa pra ver essa santa passar e que conheço bem a cidade porque já passei três meses aqui trabalhando.
De nada adiantou, chegando ao destino o desgraçado me pediu 15 Reais, o preço de um taxi comum, ainda dizendo que estava cobrando bem barato. Eu disse pra ele que eu sou branquela e tenho cara de turista mas que não sou otária, e sabia que de um extremo ao outro da cidade não chegaria a dez reais. Ele disse que estava enganada e reafirmou sua benevolência me pedindo 15 reais que segundo ele era uma bagatela, um super desconto, porque eu sou uma "moça bacana".
Nessa hora eu peguei quatro reais da minha mochila, calmamente lhe entreguei e utilizando todo linguajar paraense que consegui aprender até hoje disse:  "lhe avisei que o combinado não sai caro, maninho, te fodeste!"

06/10/2010

Belém está com um clima alegre, o Círio de Nazaré começa essa semana e pro paraense essa festa é mais importante que o Natal.
A partir dessa semana começam as romarias, tem a romaria fluvial, a romaria dos carros, a romaria dos motoqueiros, e até a romaria das bicicletas... Se me chamarem pra ver a romaria dos carrinhos de supermercado não vou estranhar.
Sábado é dia da trasladação da santa, dia de festa da chiquita (a festa dos gays, transexuais e outros excluídos pela igreja) e pra mim, dia de fotografar tantos patos, maniçobas e tartarugas (sim, consegui uma pessoa que vai fazer uma tartaruga no Círio!) quanto meu par de braços e olhos puderem!
Tem fogos de artifício, chuva de papel e mar de gente segurando uma corda que conduz uma pequena santinha, imagem de Nossa Senhora de Nazaré, dentro da berlinda.
Nada disso me parece fazer sentido, mas a galera aqui leva à sério esse negócio, diz que faz a terra tremer e até ateu chorar com a energia de mais de dois milhões de romeiros que seguem a procissão embaixo de um sol de 40 graus, muitos descalsos puxando a corda num caminho de mais de quatro quilômetros. As família vão juntas pras ruas ver a santa passar, agradecer pelas graças recebidas e pedir por um novo ano próspero.
No mínimo é uma bela injeção de cultura paraense direto na veia.

12/09/2010

lá em casa

Minha grande sorte é que nasci alterada da cabeça.
Já cobri um largo espectro de diagnósticos nos diversos consultórios psiquiatricos que pude visitar nos últimos nove anos. Tantas siglas e nomes técnicos que fica chato listar.
Onde está a sorte?
Na família em que nasci, ser são da cabeça é que é grave!
Minha música preferida na infância sempre foi: "Samba lelê tá doente, tá com a cabeça quebrada, samba lelê precisava, é de umas boas palmadas..."
Contar indiozinhos é para losers.

24/08/2010

Quase seis horas num pronto atendimento de um hospital particular na Vila Mariana.
Diversas idas e vindas da sala de medicações até a sala dos "cinquenta" médicos que me atenderam.
Reunião médica? Antes fosse! Era a troca de turno, a cada ida e vinda minha mudava o médico.

Fico calculando com minha matemática primária: cada vez mais se ouve sobre erros médicos por conta da alta carga horária e dos vários empregos que a classe médica se sujeita dado os salários absurdamente baixos. Os hospitais, públicos ou privados vivem abarrotados de gente. Convênios médicos mesmo bons e caros não garantem um bom atendimento.
Na minha terra, dois e dois ainda são quatro e com isso concluo que alguém(éns) na área da saúde está relleno el rabo de la plata - traduzindo o ditado popular via google.

Porque fiz essa conta?
A asma, a asma, que só me atormenta nessas épocas desérticas dessa cidade, que à uma da tarde de hoje já estava em alerta, com menos de 20% de umidade no ar. Resultando numa línda névoa cor de sujeira escrota no horizonte de aço e vidro (no pior estilo "quero ser moderno") enquanto nossos narizes tentam fazer uma viagem ao centro do corpo em busca de umidade.

Chego em casa com o anus atolado de cortisona, bronqueodilatadores e afins. Bicuda, sem conseguir dormir, me levanto, venho pro sofá e sinto um cheiro de queimado, vou à janela, só pode ser um incêndio...
Antes fosse! O corno do vizinho está fazendo uma fogueirinha no quintal!

Nesse momento evoco meus genes herdados de minha bisavó, maior carola, mas que rogava pragas como ninguém: que este desgraçado morra lentamente de crise aguda de hemorróidas num hospital em troca de turno, tendo pago religiosamente seu seguro médico por longos anos!

23/08/2010

Era uma vez uma garota que queria fazer um bolo.
Ela pegou a receita de bolo com a fama de ser a melhor do mundo e a estudou com afinco.
Decorou todos os passos, sabia cada detalhe de trás pra frente e salteado.
Escreveu poesias pensando na receita do bolo e algumas críticas sobre os bolos alheios. E dez anos depois de pegar pela primeira vez na mão aquela receita, ela se deu conta que não fez o bolo se quer uma vez.
A boa notícia é que a mis en place está toda montada e já tem um bowl com manteiga e açúcar só esperando o fuet.

11/08/2010

Utilidade pública

Tradução de ditado popular pra hight society paulistana:

"No ânus alheio é gaspacho!"

06/08/2010

Seppukoo

Nem com ajuda!
O Facebook bloqueou os caras.

05/08/2010

xadrez biográfico

Talvez eu não tenha mesmo nascido pra isso, talvez eu seja só uma pretensiosa.
Peão com pretensões de rainha.
Só sei que me darei um prazo, se não conseguir, volto a trabalhar de cozinheira na primeira cozinha que me empregar.
Peão é peão e tem que andar um quadradinho de cada vez.

Sabotagem

E eu me saboto que é uma maravilha.
Perco os compromissos, perco os prazos, perco até os cabelos, mas não consigo ser produtiva.
Nem deletar a porcaria da conta do facebook eu consigo! Enchi os pulmões do ar mais cheio de coragem que achei aqui e cliquei em "cancelar conta".
Olha só que jogo sujo: Facebook diz que pessoas que eu amo sentirão minha falta...
Me senti uma suicida.
Olhei lá pra baixo, todo mundo gritava pra eu não me jogar.
Perdi a coragem, voltei pra cama e dormi.

30/07/2010

São Paulo

O que me incomoda não é a garoa, o frio, a poluição, o trânsito ou qualquer outra "intemperie" urbana.
São Paulo é uma cidade incrível, repleta de cultura, apesar dos humores cinza chumbo, dos carros importados e caras plastificadas, dos moradores de rua e nóias de crack.

Quero pedir perdão à minha cidade, que tanto amo, e que recentemente dei pra culpar por meus problemas umbilicais e frustrações em geral.
Foi um smog que passou pelas minhas vistas e ajudou a esconder todas essas belezas e gostosuras em meio ao concreto.

Em breve fotos do incrível tour pela cidade com minha prima "Made in Portugal", que fazendo as vezes de turista fotografou tudo que fizemos por aqui.

21/07/2010

Justificativa

Quebrando a cabeça com a justificativa do livro.
Nunca pensei em algum dia me justificar sem ter feito algo errado.
Mas é só isso que faço desde a semana passada, escrever a justificativa pra entrar nos editais e tentar patrocínio com empresas privadas.
A coisa tá feia, não escrevo com um objetivo há anos.
Adriano está me ajudando e pra me convencer utiliza argumentos estranhos:"Imagine que eu sou um burocrata de marketing da Gessy Lever Megacorpanalisando propostas de projetos culturais antes de sair com meus amigos de firma pra queimar índiosDois projetos de culinária em cima da mesa.   Um do Pará e outro do Pantanal." Nessa hora eu entendi tudo! Basicamente: não posso dar a chance do cara acessar sua memória afetiva, ele vai lembrar quanta punheta bateu pra Juma durante a novela, no auge de seus 12 anos, e eu me ferrei com meu projeto.
Esse mundo é muito estranho mesmo...

20/07/2010

"quem vai ao Pará, parou, tomou açaí ficou"

Diz o ditado.
Pura verdade, estou desde ontem com uma vontade sem tamanho de tomar açaí com farinha de tapioca. Uma vontade insana.
Até procurei videos do You Tube sobre açaí pra pelo menos me lembrar da cor dele e não cair na tentação de comer esse treco paulista congelado e cheio de glucose de milho.
Pra relembrar Belém, vou colocar aqui o um vídeo que Soraya, minha amiga paraense Pai d'Égua me mostrou quando estava por lá. Pena que o vídeo tem 13 minutos e no You Tube só cabe 10 por vez, cortou a música do final.

AÇAÍ COM JABÁ

15/07/2010

Santa Clara saiu de férias, foi à Disney com as crianças

De volta à São Paulo, um dilúvio, não pára de chover. Gostaria muito de saber onde os cães ensinados faziam suas necessidades na Arca de Noé. Pobre Bisteca, não faz cocô há dias.
São Paulo já me deprime por si só, não respiro sem cortisona aqui, com essa chuva desde segunda feira, não tem Woody Allen que dê jeito no meu humor.

Definitivamente não tenho anti-corpos para a Amazônia. Voltei com as pernas em carne viva das picadas de insetos, e na espreita de outra infecção intestinal, veio uma urinária. Já medicada, esperando passar a urinária, veio a intestinal. O antibiótico não fez total efeito, ou seja, visitas frequentes ao banheiro a cada meia hora alternando número um e número dois. É um festival numérico.
Tenho algumas coisa pra contar sobre a última viagem dentro do Pará, vamos ver se me animo a escrever.

04/07/2010

Início

Nesta segunda feira, às 4:30 da manhã, saio pra Bragança, Vigia e cidadezinhas ainda menores pelo Pará afora.
Estou muito animada, mas só em pensamento, meu corpo está aos trapos por conta da última noite, a única em um mês que passei com o marido.
"Bragança é um lugar mágico, Ajuruteua é um sonho", diz uma amiga que fiz aqui em Belém.
Não vou por isso, mas adorei saber, acredito que num lugar mágico hei de conseguir o que procuro.
Me desejem sorte, não que eu já não a tenha, mas nunca é demais.

02/07/2010

Cada um ama seu país da maneira que pode

Se gastar parte da minha reserva financeira atrás de um resgate cultural não é amar meu país, então não sei o que é.
Só sei que essa maldita copa do mundo atrapalha tudo, cada dia de jogo é um dia a menos pra mim. Belém paraliza, tudo fecha e a maioria não abre depois do jogo. Aqui as pessoas prezam a qualidade de vida, o comércio fecha para o almoço, imagina para a copa?

Levantei tarde hoje, já sabia que não tinha muito o que fazer por conta do jogo do Brasil, cheguei na sala e estavam todos os hóspedes do albergue (todos gringos) e os donos sentados na frente da tv. Todos se viraram pra mim quando apontei na entrada da sala. Disse: ainda tem café da manhã?
Os donos do albergue já olhavam pra tv de volta e mantinham o rosto virado pro meu lado sem tirar os olhos da tv.
Então eu disse: vou pegar um pão lá na cozinha.
E eles responderam: é, é, pode ir...
Lá fui eu, fiz meu próprio café da manhã, tomei, entrei na internet tentando passar uns e-mails e trabalhar um pouco, quando percebo, começa um delicioso silêncio. É um sonho, o Brasil está perdendo de 2 a 1 pra Holanda.
Será que meu pesadelo acaba hoje?
Se o Brasil perder terei dias inteiros pra pré-produção do livro, tudo funcionará melhor e mais rápido.
Já disse, eu amo demais esse Brasil, precisamos perder!
Vai Holaaaaandaaaaaaaa!!!!!

30/06/2010

Égua

"Bom dia, sabes onde compro um chip da vivo?"Essa foi minha primeira fala do dia, se não virei paraense talvez seja efeito colateral da infecção intestinal que tive esses dias e - outro passo importante na transformação em paraense - criei casco estomacal/intestinal.
Brincadeiras a parte, estou louca pra finalizar as coisas aqui e poder voltar pra São Paulo. Hoje é um dos dias mais quentes que já passei em Belém, está insuportável na rua, e como não tinha internet no Hostel, acabei vindo para o "Estação das Docas" me abrigar no ar condicionado e me aproveitar do "Navega Pará", o programa de inclusão digital do governo do estado.
Estou comendo um cheese cake de queijo cuia, castanhas do pará e cupuaçu. A idéia é ótima, mas a execução poderia ser melhor, até porque pra deixar "bonito" eles enfiaram um horroroso chantily por cima da torta.
Hoje vou à Castanhal novamente, amanhã cedinho vou ver o processo da mandioca.
As más linguas diriam que estou aqui só por isso, a mandioca!
Talvez até seja uma verdade, mas não no outro sentido.
São inúmeros os produtos da mandioca, no proximo post coloco fotos e explicações.
Nos próximos dias virarei os quatro cantos do Pará, literalmente, porque o Pará sim, tem quatro cantos! De próxima explico melhor tudo isso, agora preciso voltar ao banheiro, que é só o que faço há dois dias. Difícil essa vida de paulistana no Pará! haha.

28/06/2010

O avesso do avesso do avesso

E depois de pastar muito, posso dizer com segurança que agora vai!
Hoje nem o jogo da copa me atrapalhou, conversei longamente com um senhor que detém o conhecimento necessário pra me ajudar a chegar onde preciso pra esse projeto. Calmamente durante o jogo ele me passava seus ensinamentos e depois me dizia: pense aí se tu tens alguma pergunta.
E assim fomos, durante o jogo inteiro, nem ligando para faltas, escanteios, gols ou qualquer coisa que estivesse acontecendo na África (a copa é na África, ne?), o foco era o Brasil, mais precisamente o Pará.
Saí de lá com o "roteiro" do livro pronto e da viagem também.
Tem mais coisa ainda, mas só conto quando estiver na minha mão.
Centrifugue, que torcer é pra futebol, pra esse projeto dar certo preciso de centrifugação!

26/06/2010

muita emoção

Estou em Castanhal, num dos oito chalés super charmosos do Hotel Quinta das Alamandas. O hotel é da professora que me orienta na pesquisa, vim até aqui conversar sobre a pesquisa e ela fez questão que eu ficasse.
No quarto: internet, tv e uma cama (não uma beliche!) com lençois branquinhos, macios e super cheirosos. Um banheiro limpíssimo, só pra mim, e ainda por cima com chuveiro quente!!
MeoDeos, nunca pensei que pudesse vir a sentir tanta saudades da minha vidinha de garota paulistana classe média!

25/06/2010

Vai Brasil!!!

Chorar é como fazer cocô: fora de casa eu faço, mas não é a mesma coisa.
Sinto uma saudades imensa de tudo e de todos e às vezes me pergunto o que faço aqui quando as coisas não vão exatamente como esperava porque minhas expectativas são sempre maiores que a via láctea.
E essa merda dessa copa me atrapalha pacas, quando o Brasil desclassifica de vez, hein?

Cada um ama seu país da forma que pode, não é?

descoberta

Não existem doidos do bem, existe uma distância exata entre eu e cada doido para que as coisas não se compliquem. Como diz sabiamente meu pai: "de neuroses e loucuras já bastam as minhas!"

23/06/2010

Hoje completo 31 anos e o chef e a esposa dele estão empolgados querendo comemorar.
Já chamei alguns amigos que fiz aqui em Belém pra jantar aqui na casa deles, o cardápio é:
Vatapá do pará
Caribé (o consomê amazônico)
Peixe defumado no caldo de tucupi
E de sobremesa, compota de cupuaçu e compota de bacuri
Amigos paulistanos, podem babar, mas saibam que quando voltar vocês serão minhas cobaias.
Preparem o estômago.

22/06/2010

primeira aula

Às quinze pras sete da manhã de hoje estava no ver-o-peso fazendo meu dejejum com tapioquinha na manteiga e café com leite.
Descobri que eu já saquei algumas coisas fundamentais sobre os ingredientes daqui, porém não faço idéia de muita coisa ainda, na verdade diria que não faço idéia nem do tamanho da minha falta de idéia!
A coisa é grave, cada vez descubro mais nomes de plantas e mais peixes e mais técnicas...
Haverei de voltar aqui ao menos umas mil vezes pra aprender tudo, ou seja, uma façanha!

20/06/2010

Quando o avesso é o direito

Depois de passar anos na expectativa de estagiar numa cozinha que na minha cabeça era uma coisa mágica, encontrar aquilo foi um grande choque. Os cozinheiros usavam preparados Kinorr pra temperar o vatapá do pará, carnes, e frango. Três sabores de caldo Kinorr, dignos de foder de vez qualquer cozinha, ainda mais essa, que tem fama de fazer a melhor comida regional. E pra acabar de vez com todas as chances da minha parte de dar uma chance: a mais absoluta falta de segurança no trabalho, e uma mousse de graviola que voltou do buffet estragada foi direto pra geladeira, apesar dos meus avisos de que estava estragado - quando coloquei uma colherada na boca as bactérias ficaram todas felizes e ferveram na minha lingua quentinha e úmida. Como diria minha amiga Fabiana Vajman, "é de foder até o cu cair da bunda!".
Procurei desesperadamente a "orientadora" que, depois descobri, estava passando mal do estômago e não me respondia.

Pensei estar perdida, pensei que todo o tempo aqui foi perdido, desci as calças e pisei em cima de tanta raiva. Cheguei a comprar uma medicação calmante fitoterápica na quinta feira, tomei uns goles do vidro e me acalmei.
Resolvi aproveitar o sol na beira do rio, no máximo minha viagem ao Pará me faria levar boas lembranças: conheci gente interessante, fiz amigos, conheci lugares incríveis, comi coisas deliciosas e passei a creditar que as pessoas podem ser felizes - aqui as pessoas nitidamente são.

Foi quando encontrei, finalmente depois de muito procurar, o Chef Ofir de Oliveira. Ele retornou à cidade à pouco, estava cozinhando na Suíça e depois dando aulas em Santa Catarina. Marquei de jantar na casa dele. Ele cobra 65 reais por uma entrada, três pratos e sobremesa. Já havia ouvido falar e na verdade ele era um dos meus focos quando cheguei, porém o número de telefone que tinha dele estava desativado. Diante da experiência do chef, fiquei enlouquecida, finalmente havia encontrado a pessoa que me ensinaria o que preciso sobre a cozinha de raiz da região. Muito mais do que aprenderia dentro de um restaurante que tem que lucrar e portanto se perde nas releituras dos pratos regionais e ingredientes regionais com a tal "cozinha internacional".
Diante desse encontro, quase chorei, só não chorei porque estou sozinha aqui e não posso me dar ao luxo de "amolecer" assim.
Percebi que as coisas sairam muito melhores que o planejado inicialmente e que aquele restaurante hoje realmente só convence pessoas sem a menor referência da cozinha paraense.
Na sequencia, consegui contato com a "orientadora", que muito feliz em me ajudar, me recebeu em seu hotel, numa cidade que fica a 100km de Belém. Conversamos longamente sobre o projeto e ela me fez acreditar, sem dúvidas, que eu posso e devo escrever esse livro, e que isso é de grande valor porque é um resgate de um acervo que está esquecido e em breve morrerá de vez, assim como já aconteceu na cidade de Belém.
Percebi que precisava de alguém para fotografar essa pesquisa e com a ajuda de um amigo que não é fotógrafo, nem músico, nem cozinheiro, mas que é tudo ao mesmo tempo, faremos isso contecer. Já consegui outro amigo que é ótimo no photoshop e se ofereceu para tratar as fotos.

E as coisas estão tomando forma e dançando na minha frente como um balé, ou melhor, um lindo passo de carimbó.

19/06/2010

Manjar das garças

Manjar das Garças é um restaurante dentro do Parque ecológico Mangal das Garças
Apesar do restaurante levar a fama de fazer uma cozinha internacional se utilizando de ingredientes locais, diria que além de escassos, esses ingredientes ainda são muito mal utilizados, ao menos, no Buffet de almoço. Lá haviam mais de 25 pratos quentes, provei 8, já que apenas estes levavam um ou dois ingredientes regionais.
Gostoso mesmo estava o arroz de Santarém, uma espécie de baião de dois feito com o feijão manteiguinha de Santarém. Fora isso, apenas a língua guisada, bem ao estilo português, com queijo de Marajó salvou minha ida ao restaurante.
Razoavelmente gostoso estava o purê de batata com jambu, que com muito amido, fazia um grude no prato (totalmente estilo “viscoso mas gostoso”). Talvez tenha sido uma tentativa sem êxito de fazer um purê aligot - que é preparado de modo a desenvolver muito amido e com muito queijo até parecer um chiclete.
O palmito pupunha assado, pobre, foi apenas decorado com uma salsinha verde, desconfio que até sal esqueceram de colocar.
Camarão ao molho de ostras:  teria sido melhor descrito como “camarão ao creme de leite”
Também pude provar a primeira pescada que não consegui comer, ela vinha descrita como "pescada ao molho de manga": conseguiram deixar a pescada como uma palha de tão seca por causa da falta de molho no rechoud. Arrisco dizer que deveria se chamar “passado de manga em cubos”.
O arroz branco parecia ter sido cozinhado em água sem sal.
O filhote ao molho de alho poro e agrião estava ok.
No buffet de sobremesa, o único doce com ingredientes locais era uma compota de cupuaçu que estava bem honesta.

Tomei uma água 300 mL e no total com serviço (irritantemente atencioso), cobrado inclusive sobre o buffet, desembolsei R$52,47. Mais caro que duas diárias no Hostel em que me hospedo pra quem tem carteirinha de alberguista.

Hakuna Matata II, a missão

E esses últimos dois dias foram incríveis, e pela primeira vez dou graças às baratas e ao caldo Kinorr, porque não fosse a presença deles pra me desestimular totalmente do primeiro restaurante e partir pra vida, nunca chegaria aqui, prestes a iniciar um trabalho realmente original e relevante.

Hakuna Matata
É lindo dizer
isso é viver, é aprender hakuna matata
Hakuna matataaaaaaa...


Em breve mais explicações, por hora tenho que dormir.

16/06/2010

Hakuna Matata

O  legado de PM está se esvaindo.
Não vi nada ser feito como deveria lá hoje e olha que estou no berçário quando se trata da cozinha paraense.
O vatapá do Pará não estava 100%, o arroz paraense estava ruim, o pior que já provei na cidade, e está comprovado: qualquer barraquinha de rua serve uma maniçoba melhor.
Sinto no fundo do coração dizer isso tudo. Passei anos sonhando em estagiar nesse restaurante, e sei que ele é uma referência quando se fala em cozinha paraense, mas isso é pra estudante da faculdade, não pra mim. Sem querer ser pedante e já sendo, mas aprendi que eu sou mais que isso.
Enfim, diante da confirmação da orientação de uma professora de A&B, vou seguir a pesquisa sem continuar nessa cozinha. Acho que serei a única aluna da pós graduação sem ter graduação e isso é no mínimo inusitado.
O fato é que hoje trabalhei como ajudante de cozinha, e não vi nada especial, ao contrário. Não posso me submeter assim num lugar que não me ensina o melhor e ainda tem baratas passeando por todos os cantos da cozinha. Eu não tenho preconceitos, sou do time do Antony Bourdain, que em Cozinha Confidencial diz: "seu corpo é um parque de diversões e não um templo a ser cultuado". Se realmente valesse a pena, as baratas seriam só mais um motivo pra eu contar histórias engraçadas durante a cerveja com os amigos.
“Hakuna Matata! Viscoso mas gostoso”, lembra?
Não quero perfeição, não sou perfeita, passo longe, mas não posso pagar pra não aprender. Pago estadia, alimentação e passagem do meu bolso e além de tudo estou longe da minha família e morrendo de saudades, diga-se de passagem.
O legado dele está se perdendo e se existe uma coisa que aprendi nessa vida é correr antes que o teto caia sobre minha cabeça!

Mamãe, quando crescer quero ser Alex Atala

E a garota paulistana, que sequer conseguia ir ao cinema sem companhia em São Paulo, está há mais de uma semana sozinha em Belém do Pará. Hospedada num Albergue da Juventude num quarto comunitário, tomando banho frio (também não conseguia tomar banho frio ainda que fizesse 45graus), e o melhor de tudo: feliz!

Hoje é meu primeiro dia de estágio no restaurante do chef que ensinou cozinha paraense ao A.A - me incomodo de chamá-lo somente por Atala ou Alex, então passei a abreviar, é engraçadinho e ainda soa como uma certa intimidade.

Me desejem sorte!

15/06/2010

Todos os dias, desde que pisei em Belém, dia 30 de Maio, descubro uma série de ingredientes novos e de pratos novos que não tinha visto nem ouvido falar.
Todos os dias alguém me fala de um peixe que ainda não fotografei, e olha que passei duas manhãs fotografando peixes no mercado ver o peso desde às 5hs. Vi as barracas serem "montadas", a chegada dos peixes, os pescadores negociando com os comerciantes... 
Conversei longamente com um pescador e com três irmãos donos de uma barraca de peixes. Os "meninos" foram super legais e me levaram à feira do açaí, me mostraram os temperos e ofereceram me levar ao interior pra ver uma "casa de farinha", que é onde se transforma a mandioca brava em tucupi, goma e farinha. Diante da confirmação que teria que fazer a viagem na garupa da moto de um deles, desisti.
Correr riscos não é sinônimo de aventura e minha curiosidade por  mandiocas (apesar de gostar muito) não chega a tanto.

Não existe maneira de descrever a cozinha paraense a não ser resumidamente dizendo que ela é um mundo a parte, desses que você só imagina achar bem longe, no oriente.
Uma abundância de ingredientes e técnicas, uma complexidade de novos sabores e aromas que nunca provei antes, e olha, que sou do tipo que come até pedra se disserem que é gostoso, claro que depois constato que pedra é horrível, mas até lá quebro os dentes com a pedra tentando achar porque me disseram que é bom!
Ainda não tenho noção da maior parte das coisas, mas olhando daqui tenho a forte impressão que a população indígena tinha tanta abundância de alimentos em suas terras que pôde se dedicar às técnicas de cozinha.
Da mandioca brava lavada e ralada através do tipiti (foto ao lado) se extrai o tucupi , que precisa entrar em ebulição pelo menos duas vezes, pra perder o ácido cianídrico, que se estiver lá, mata! No fundo dessa panela fervendo se formará a goma, usada no tacaca e que depois de seca também vira farinha de tapioca. A mandioca que sobra ralada e espremida dentro do tipipi vira farinha, precisa ser torrada por horas numa grande chapa de ferro com a ajuda de uma espécie de rodo, a farofa feita dessa farinha é uma coisa fabulosa!
Hoje fui ao Pier 47, um restaurante que fica num naviu no complexo Ver o Rio.
Comi um prato incrível, pirarucu de casaca.
E claro, não pude deixar de provar a maniçoba, que estava bem gostosa, mas a vencedora até agora é a da chef Adriana do restaurante Beto Grill, Um amor de pessoa (como todo belenense!) que tive a oportunidade de conhecer ontem.


14/06/2010

Da hospitalidade de Belém do Pará

É impressionante, mas por onde quer que você vá nesta cidade as pessoas te acolhem, te ajudam, te orientam.
Ficam extremamente lisonjiadas porque minha vinda ao Pará é uma busca pela cozinha brasileira. Adoram quando brinco dizendo que não vou mais embora, que essa cidade é incrível... Elas realmente querem que você fique. Bem parecido com aquela cidade que eu nasci... como é mesmo o nome, cara pálida??
Enfim, eu achei que ia morrer de calor, tédio e solidão numa viagem que a princípio já se extende em mais de um mês. Saudades eu tenho, muita, mas estou feliz aqui e sinto que passarei a sentir saudades daqui quando voltar.
Comecei a estabelecer vínculos, fiz amigos, assim como quem tropeça na rua.
E só de sair na rua vou cada vez mais conhecendo gente que se comove com minha busca e tenta me ajudar de todas as maneiras.
No primeiro dia um grupo de pessoas que conheci enquanto assistia ao ensaio do Arrastão do Pavulagem, me levou num restaurante de comida regional frequentado pelas pessoas da cidade. Comi um caranguejo com farofa de ajoelhar e pedir mais. Só que no caso, aqui é tudo tão bem servido que não dá pra pedir mais, simplesmente não cabe no meu estômago.
Já engordei e tive que comprar roupas aqui, já que as minhas (vindas do "exterior," além de nada adequadas ao clima, ainda que curtas) não me servem mais.
No segundo dia esse grupo me chamou para o "namorado oculto". No dia 12 eles fizeram um esquema amigo secreto entre eles que estão solteiros ou que estão com seus cônjuges longe. Eu entrei e foi divertidíssimo. E me sinto acolhida e amada como se estivesse entre amigos de muitos anos! As pessoas se preocupam com você, querem ter certeza que você está bem, são generosas. Espécimes raros na selva de pedras.
Consegui o contato de uma professora de alimentos e bebidas do curso de turismo de uma faculdade daqui que vai me "orientar" na pesquisa, o contato veio através de duas professoras da UFPA que conheci no meio da multidão acompanhando o Arrastão do Pavulagem. Quando é que você faz amigos no metrô de São Paulo??
Conheci uma chefe de cozinha de um restaurante regional bem legal e ela já me passou os contatos, quer conversar, sair pra comer.
As pessoas aqui não tem medo de se apegar, de fazer amizades, de trocar experiências, de ajudar as outras pessoas.
Belém do Pará tem identidade, se orgulha do que é, tem na tradição essa coisa do acolhimento, e acredito que por isso as pessoas são super legais quando descobrem que alguem veio conhecer o que é deles - e que é muito incrível, quero frizar.

Das coisas que deveriam ser ruins

Acabo de sofrer uma tentativa de assalto em Belém do Pará.
Dei com a sombrinha no "assaltante que veio com as duas mão abanando e dizendo "passa tudo, é um assalto! assalto! assalto!". Já pronta pra correr, quem saiu correndo foi ele.
É que eu tenho toda essa cor do verão e sou confundida, acham que sou gringa, ainda mais porque ando por aí feito imbecil olhando as construções que aqui são lindas e em sua maioria tombadas.

O albergue em que me hospedo é uma dessas casas tombadas, pé direito de milhões de metros, portas enormes, janelões... Linda.
Eu sei que prometi não falar mais mal de Belém, mas os assaltantes aqui são muito amadores, eles correm depois que você mostra que não vai entregar nada. Precisam fazer um estágio em São Paulo, né cara pálida?

Açaí - versão remasterizada

Sábado fui ao Point do Açaí decidida a comer peixe com açaí. Queria achar um lugar menos turístico, e descobri que o Point do Açaí apesar de ter sua filial no "Estação das Docas" ainda é na verdade um bom restaurante local onde os paraenses frequentam e por sinal falam muito bem. A matriz fica na cidade velha. É aquele meu preconceito que no final muitas vezes me salva: o Point do Açaí no "Estação das Docas" é um lugar turístico, provavelmente o cozinheiro do restaurante matriz, que ainda é frequentado por pessoas locais, é melhor do que o cozinheiro do restaurante no local turístico. Por isso eu e Vera (uma amiga que fiz no albergue em que me hospedei na foto aí ao lado) camelamos quilometros até a cidade velha atrás do tal peixe com açaí. Comemos a pratiqueira frita com açaí que vem acompanhada de arroz, farofa e vinagrete - chegando aqui percebi que o vinagrete apesar ser apenas um acompanhamento é uma das grandes expressões da cozinha brasileira, que com leves variações, é o mesmo de Norte a Sul do país. A pratiqueira é um peixe pequeno que se come bem fritinho e quase não sobra nada. Pra falar a verdade ela é um peixe pra ser comido por quem tem "experiência" no assunto. Pessoas que ficam muito incomodadas com espinhas de peixe devem evitar. Mas se você está disposto a experiências novas vai perceber que as espinhas são pequenas e mastigáveis, comemos da cabeça ao rabo deixando apenas a parte mais grossa da espinha dorsal do peixe, simplesmente delicioso! E com o açaí ele fica melhor ainda. Por fim percebi que mandei ver o peixe com o açaí e restou o arroz e a farofa que vieram de acompanhamento. Resolvi provar entao uma garfada de arroz e farofa e acabei por lamber o pote. Uma delícia!
Restou anda um pouco de açaí na garrafa que comi de sobremesa com açucar e tapioca. Depois de comer açaí fica-se com os lábios bem roxos e os dentes também. Ao fim da refeição eu parecia uma criança que nunca viu doce na vida, tive que ir ao banheiro tomar uma espécie de banho de pia, praticamente mergulhei no açaí e manchei o vestido novo que comprei aqui, mas valeu a pena. Esta foto ao lado é depois do semi-banho.
Hoje pretendo ir mais além, vou comer peixe com açaí  nas barraquinhas do mercado ver o peso.
Programa típicamente paraense.

E pra finalizar mais um pouco da história do açaí, que no interior se chama "iaça".
Depois de colhido durante a noite pra não secar ao sol, é processado nessas máquinas como na última foto, ou também na mão para consumo próprio nas comunidades ribeirinhas. O paraense come açaí durante as refeições. Há quem diga que não consegue comer sem o açaí como acompanhamento. Compreensível, já que ele é realmente delicioso, o verdadeiro, claro.

13/06/2010

Arrastão do Pavulagem

Eu fui lá hoje e foi incrível!
Segui o arrastão com mais umas 6 mil pessoas até a praça da Republica, que foi um cemitério de escravos e hoje tem uma feira de artesanato das mais bonitas que já vi.
Minha bateria acabou e não consegui fotos do show nem fotos minhas dançando o carimbó.
Acredite eu aprendi a dançar o carimbó!









 E olha o booooooooi!!!




Dia incrível!

Para saber mais, clique aqui
Abaixo o atestado de presença

11/06/2010

Das maravilhas de Belém


Como o prometido, vou começar a contar as coisas boas dessa cidade incrível que é Belém do Pará.
Do meu ponto de vista (levando em conta que sou uma cozinheira absolutamente apaixonada pelo ofício) a melhor parte da cidade é o mercado ver-o-peso.

Basicamente tudo o que se extrai da Amazônia passa por lá até chegar ao consumidor final. Desde o açaí até os produtos derivados da mandioca amarela.
Também existem as famosas garrafadas, que fazem milagres como curar dor de corno, olho gordo ou insônia.

O Açaí


Quando dei a primeira colherada num açaí em Belém do Pará percebi que fui enganada até agora. O açaí tem um sabor forte, marcante, delicioso e além disso é líquido! Aqui as pessoas comem com farinha de tapioca, alguns colocam açúcar, outros apenas a tapioca ou até mesmo a farinha de mandioca amarela que por sinal é incrível, mas fica pra outro texto.
Ele é extraído pelos caboclos das comunidades ribeirinhas e chega à feira do açaí para ser comercializado pela madrugada num espaço ao lado do ver-o-peso.
Daí paulista pensa: paraense é tudo maluco, uma feira que começa meia-noite e termina às cinco da manhã!!!
Não, cara pálida, o açaí não pode pegar sol, ou fica seco e não dá sumo.
O açaí é uma frutinha que dá numa palmeira que quase entrou em extinção nos anos 90 por conta da extração de palmito juçara. Isso aí, o açaí é o fruto da mesma palmeira que cortada é o palmito juçara que o brasileiro adora na empadinha.

Não sei quem foi esse marqueteiro do bem que implantou a moda do açaí no país, mas ele merecia o premio Nobel. Ele salvou a palmeira da extinção e ainda fez com que a comunidade ribeirinha ficasse praticamente "rica"! Um quilo de açaí chega a custar 60 reais fora da época.
Por sua vez, as igrejas evangélicas atacaram. Num breve passeio de uma hora de barco pelas comunidades ribeirinhas pude flagrar duas igrejas evangélicas construídas sobre palafitas e uma em Boa vista do Acará que já é terra firme amazônica.
A época do açaí começa agora, junho até setembro. Já ouvi de uns três paraenses que se eu gostei do açaí no fim de maio vou pirar quando tomá-lo em julho.
Vamos aguardar.
Ainda não comi peixe com açaí e outras iguarias que pra quem não é do Norte soam como bizarrices, espero fazê-lo até o fim da minha estadia aqui. Relatos em breve.

O Cupuaçu

A polpa de cupuaçu que comemos no sudeste não é cupuaçu, depois de assuntar por aqui descobri que muitos dos produtores de polpa misturam jaca e banana na polpa para render e mandam pra outros estados onde o povo não conhece o sabor.
O cupuaçu tem um sabor incrível e aqui é ingrediente de vários doces regionais, como Maria Isabel, Rocambole de cupuaçu e ate mesmo pratos com peixes e camarão levam cupuaçu.
Ouvi dizer que existe uma maneira de secar o cupuaçu e transformá-lo uma espécie de chocolate, porém não consegui nem se quer comer o tal “chocupuaçu” (se não existia esse nome, acabo de inventar), muito menos ver como se faz.
 
Pra encerrar esse post (que está na hora do jantar e eu não perco uma oportunidade se quer de comer nessa cidade) em São Paulo nunca mais conseguirei tomar açaí ou suco de cupuaçu novamente.
A ignorância é mesmo uma benção!

Minhocas

E eu enrolo feito minhoca pra escrever porque não faço patavina de onde começar.
A Amazônia é um mundo a parte, me sinto a própria extra-terrestre. Se tivesse a pele verde talvez não fizesse tanto alarde no meio do ver-o-peso - o mercado local, por onde passa tudo que é extraído das matas para chegar à Belém.
É tanta coisa nova, tanto nome novo, que acho que vou começar dizendo meu próximo destino:



São Gabriel da Cachoeira, município mais ao norte do estado do Amazonas.
Dona Brazi, uma cozinheira local, vai me receber em sua cozinha e me ensinar a comida indígena do alto do rio negro.
O traço vermelho é uma linha comercial, Belém - Manaus, o branco é feito por uma linha particular, custa os olhos da cara e viaja-se de teco-teco.
Outra opção é me enfiar num barco em Manaus e levar de 3 a 4 dias pra chegar em São Gabriel da Cachoeira.

Torça por mim, se quiser, centrifugue pra ser mais eficaz.
Enquanto isso preparo meu texto sobre o ver-o-peso...

09/06/2010

o que não fazer em Belém ou ééégua, não sabia que era assim!

Antes de mais nada quero falar mal de Belém do Pará.
Não que a cidade seja ruim, ou contrario, essa cidade é incrível, porem um paulista acaba por estranhar um pouco. E assim, a paulista aqui desabafa e fala só das coisas boas a partir do próximo post, certo?

Pra começar, tome muito cuidado no trânsito, principalmente andando a pé. Bicicleta? Nem sonhe com isso.
Saindo do aeroporto, vendo essa cidade super plana, logo pensei: que imbecil!!! Por que não embarquei com minha bicicleta??
Depois de alguns minutos andando nas ruas de Belém entendi que se eu quiser voltar viva e com todos os ossos inteiros é melhor andar a pé mesmo.
Bem, pra começar, olhe SEMPRE para os dois lados ao atravessar a rua.
Aqui, mais que em São Paulo, não existe preferencial e muito menos para pedestres, cuidado!
Ao andar na calçada também fique atento, os bicicleteiros de Belém (pra chamar de ciclista tem que nascer de novo) não sabem bem por onde andar e acabam na calçada, por vezes, em cima dos pedestres.
Ao tomar um taxi, prefira os taxistas com cara de taxistas, sabe aqueles que em São Paulo você evita porque tem cara de malandro? (eu adoro e cultivo meus preconceitos, tá?!) Aqui eles são os caras que vão te levar em segurança ao seu destino, sem entrar em vias na contra-mao, sem olhar pra você no banco traseiro enquanto guiam, sem errar a troca de marcha... Enfim, evite os tios com cara de bonzinhos e senhores mais velhos, eles não costumam ser confiáveis aqui em Belém.
Ao sentar em um restaurante, certifique-se que você tem tempo disponível para usufruir de uma refeição que com certeza vai demorar no mínimo 30 minutos pra chegar. Se estiver com muita fome, esqueça, não existe entrada rapidinha, espere dez minutos por um suco que possa tapear sua fome até dali meia hora!
O tempo em Belém do Pará é mais lento que em São Paulo, as pessoas no transito até demoram mais a buzinar quando alguém empaca no sinal verde, o que acontece muito.
Você vai engordar vários quilos em Belém do Pará, mas o motivo disso eu vou contar nos próximos posts, que é a melhor parte da cidade!

18/03/2010

Adquiri um torturador elétrico.
Dói bastante, mas ao menos agora me assemelho à uma homo sapiens sapiens do sexo feminino.

23/02/2010

meu casamento

Quando você pronuncia isso ocorre uma reação estranha em algumas pessoas. Primeiro um brilho no olhar, parecido com o dos olhos de um leão faminto que encontra uma girafa bebendo água na savana...
Depois, as palavras bregas.
Sua auto-estima revolve no lodo do fundo do poço quando você percebe que ao pronunciarem noivinha de maio referiram-se carinhosamente à você.
E então eles vêm pra cima, achando que você é aquela girafinha indefesa na savana mais próxima.

Minha única conclusão é que as pessoas realmente acham que pra pronunciar essa expressão há de ter dinheiro esvaindo pelo rabo.