29/11/2010

Bisteca e Milanesa

Bisteca cata as pulgas de Milanesa e as vezes dá uma encoxadinha nela pra mostrar que é a fêmea alfa do pedaço. Milanesa tenta mamar na Bisteca, que sai correndo feito louca pela casa derrubando tudo.
Assim passam o dia, uma correndo da outra... Quando cansam deitam e dormem, e eu posso voltar a pensar.
Ninguém disse que seria fácil, mas ao menos é divertido.

25/11/2010

Maior ogulho dos meus amigos

Eu tava na mesa de bar em que Luana Vignon e Rodrigo Sommer descobriram uma vontade em comum: montar uma editora pra publicar os amigos tão talentosos que tem livros engavetados. "Panelinha mesmo, só os amigos que admiro e não conseguem publicar", disse Luana. Rodrigo concordou plenamente e daí veio o nome Panelinha Books, e uma semana depois eles eram três pessoas (com Jarbas Capusso) com um grande propósito: Fazer bem feito.
Me orgulho muito de estar por perto e poder dar uma mãozinha nesse trabalho tão bonito desses três.
Parabéns queridos!

Luana Vignon escrevendo dedicatórias no lançamento do seu livro de poemas na última terça: Os Tiros Vêm do Paraíso, e também lançamento da editora Panelinha Books.
Noite incrível.

sobre a vida e as pedras

Voltar pra casa é sempre muito bom: minha cama, minha casa, meu marido, minha cadela...
Mas além de desfazer a mala tenho que me desfazer toda e arrumar de novo.
Além de mim tem todo o material colhido da pesquisa e um monte de camisas amassadas, coisas fora do lugar, roupas sujas...  Uma casa, um marido, uma cadela, uma pesquisa e eu. Tudo rolando montanha abaixo até eu levar tudo pro lugar de novo num ciclo infinito...
Uma vida de Sísifo.

18/11/2010

dias assim, dias assado

Não existe consenso em Belém do Pará.
Um diz uma coisa.
Outro diz outra coisa.
Outro alguém diz mais uma coisa ainda.
Mas vem dois que dizem que não existe, nunca ouviram falar.
Então vem outro e diz que tá na minha cara, é só esticar a mão... Pra esquerda, não, não, mais pra direita agora...
Basicamente, no trânsito, não existe mão e contra-mão. Coisa mais normal do mundo é dar ré na contra-mão. Inclusive quem faz isso aqui é respeitado pelos outros motoristas porque está "manobrando". Também não existe um só nome pra muitas das ruas de Belém e é crime pagar o taxi que deu dezenove reais com uma nota de cinquenta. O taxista tem todo o direito de te agredir verbalmente e tentar dar o troco a menos.

Fora essa coisa do avesso ser o direito e o direito não se sabe mais, mas dizem que é o avesso, só que do avesso também se faz manga e gola e também vestido e vassoura... Não, não, vassoura não, vassoura se faz de piassava que dá naquela árvore... Ou é palmeira?!

Em dias assim, penso no transito de São Paulo, na poluição de São Paulo, na violência de São Paulo... E morro de saudades!

15/11/2010

Sabe aquele dia que você acordou de bunda descoberta?
Então, parece que Belém do Pará inteira acordou de bunda descoberta hoje...
Ainda bem que hoje já é amanhã, apesar da maldita insonia.

14/11/2010

Me embriaguei algumas vezes por felicidade. Desta última, foi numa conversa com um lindo casal, senhor Guerra e dona Adail, que me receberam em sua casa de braços e peito abertos. Conversamos longamente sobre a cozinha amazonica paraense. Me deram um número sem conta de informações relevantes e tiraram muitas das minhas dúvidas.
Ele adora a pesca, é engenheiro florestal e agronomo, nascido em Monte Alegre.
Ela é estudiosa da cultura paraense, sempre cozinhou muito bem, nascida em Santarém.
O casal tem quatro filhos com nomes indígenas, viveram a vida inteira juntos e nítidamente amam-se e respeitam-se.
Quando recém casados, foram morar no acampamento em que ele trabalhava como engenheiro florestal na construção de estradas na amazônia. Ele mostrou uma tela que ela pintou do acampamento e contou a história: ele escolheu o local do acampamento por imagem aérea, numa clareira no meio da mata. Foram contruídas as taperas de madeira e palha para abrigar o escritório e os dormitórios dos funcionários da obra. Lá chegando tiveram uma surpresa, o local era um cemitério indígena, mas alojaram-se ali de qualquer maneira, o acampamento já estava pronto. Tempos depois ouviram um assobio de indígenas se aproximando. Ele ficou louco achando que indígenas tinham vindo buscar sua esposa, loira e linda que era - e ainda é apesar dos anos. Na manhã seguinte, depois de uma noite de muito susto com disparos de armas de fogo para assustar a possivel invasão ao acampamento, um dos funcionários que trabalhou na extração da borracha foi correr em volta do acampamento para tentar descobrir quem eram os invasores. Voltou com a impressão de pés de diferentes tamanhos numa folha. Eram pés de homens, mulheres e curunins, a tribo veio inteira tentando visitar seus mortos...

10/11/2010

Da bênção da ignorancia

A sensação de impotência sobre a vida me afeta duas vezes: a primeira por ela mesma e a segunda porque não é prigilégio meu ser impotente diante da vida. Então me reprimo nesse sentimento porque a última coisa que quero ser é uma menina mimada.
Meu clima interno traz chuvas tórridas que junto a essa garôa paulistana faz meu coração ficar de ressaca.
Adoraria acreditar que "Deus quis assim", mas Deus não quer nada, eu bem sei.

04/11/2010

Felicidade

Eu tinha onze anos e voltava do colégio sozinha quando um carro entrou na contra-mão e quase me atropelou. Gritei um sonoro "imbeciiiiilll" e mostrei-lhe o dedo do meio - tive uma educação britânica.
O carro parou e eu entrei em pânico vendo que o motorista viria tomar satisfações. Do outro lado da rua vinha um garoto da minha sala, de pronto gritei o nome dele e acenei indo na direção da rua, ele atravessou a via e parou na esquina em que eu estava. Em pânico, segurei a mão dele, e antes que eu conseguisse contar o que estava acontecendo, o motorista, que era uma mulher descabelada e nítidamente na TPM, berrava tomando satisfações. Paralizada de medo, pedi desculpas, mesmo eu estando na faixa de pedestres e ela na contra-mão.

Ela berrava algo como: "vocês são todas assim, na hora do vamos ver correm pra eles, não sabem ser pessoas, não sabem ser mulheres, não sabem viver a própria vida!! ..."
E sem querer essa mulher mal-amada, desabelada e tepeêmica me salvou.
De alguma maneira esse episódio começou um processo em mim.
Foram longos anos pra conseguir reverter esse comportamento e me libertar definitivamente dessa figura masculina protetora, seja ela meu pai, namorado, marido, chefe...
Sei que hoje, finalmente, posso me lembrar disso e saber que sou a única responsável pela minha vida. Sou eu que dito as regras, erro ou acerto, não importa, o que importa é que vou com minhas próprias pernas.
E se isso tem um nome aposto que é felicidade!

03/11/2010

Na última viagem à Belém, fiquei um pouco irritada por dar de cara na porta da Biblioteca do Museu Emílio Goeldi, em reforma. Enviei um cordial e-mail (cordial de verdade!) perguntando quando poderia consultar o acervo da Biblioteca, dado que haviam alguns livros que sabia que só conseguiria lá. A resposta veio sem datas e dizia que deveria me dirigir a livraria do Museu e comprar os livros que custavam em média 20 reais - não muito mais caros que as xerox dos livros e teses que consegui na UFPa.
Deixei pra fazer isso por último e como já vinha trazendo vários quilos a mais de papeis na bagagem, achei melhor deixar pra próxima ida à Belém, na segunda quinzena de novembro.

Estou em São Paulo, atolada dos pés à cabeça nesse projeto, no meio de uma esticada sem fôlego, tentando voltar à tona quando vou checar meus e-mails esta manhã:

Prezada Sra. CAROL HELENA,
Temos o livro FRUTAS COMESTÍVEIS NA AMAZÔNIA em sua nova edição que foi revisada e atualizada. Seu relançamento foi feito em outubro passado. É uma belíssima publicação, que enviaremos como doação.
Em relação ao livro A PESCA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA, informamos que o mesmo está esgotado. Como nossa Biblioteca está fechada para reforma e os livros estão empacotados, torna-se difícil, no momento, atendê-la.
Solicitamos apenas, por gentileza, informar-nos por e-mail seu endereço completo para podermos enviar o livro FRUTAS COMESTÍVEIS.
Agradecemos antecipadamente e transmitimos nossos votos de apreço e consideração.
Cordialmente,
A****** R** F******
Depto. de Permuta - MPEG

Nessas horas não há outra explicação além dessas bem exotéricas: SINAIS!