30/06/2010

Égua

"Bom dia, sabes onde compro um chip da vivo?"Essa foi minha primeira fala do dia, se não virei paraense talvez seja efeito colateral da infecção intestinal que tive esses dias e - outro passo importante na transformação em paraense - criei casco estomacal/intestinal.
Brincadeiras a parte, estou louca pra finalizar as coisas aqui e poder voltar pra São Paulo. Hoje é um dos dias mais quentes que já passei em Belém, está insuportável na rua, e como não tinha internet no Hostel, acabei vindo para o "Estação das Docas" me abrigar no ar condicionado e me aproveitar do "Navega Pará", o programa de inclusão digital do governo do estado.
Estou comendo um cheese cake de queijo cuia, castanhas do pará e cupuaçu. A idéia é ótima, mas a execução poderia ser melhor, até porque pra deixar "bonito" eles enfiaram um horroroso chantily por cima da torta.
Hoje vou à Castanhal novamente, amanhã cedinho vou ver o processo da mandioca.
As más linguas diriam que estou aqui só por isso, a mandioca!
Talvez até seja uma verdade, mas não no outro sentido.
São inúmeros os produtos da mandioca, no proximo post coloco fotos e explicações.
Nos próximos dias virarei os quatro cantos do Pará, literalmente, porque o Pará sim, tem quatro cantos! De próxima explico melhor tudo isso, agora preciso voltar ao banheiro, que é só o que faço há dois dias. Difícil essa vida de paulistana no Pará! haha.

28/06/2010

O avesso do avesso do avesso

E depois de pastar muito, posso dizer com segurança que agora vai!
Hoje nem o jogo da copa me atrapalhou, conversei longamente com um senhor que detém o conhecimento necessário pra me ajudar a chegar onde preciso pra esse projeto. Calmamente durante o jogo ele me passava seus ensinamentos e depois me dizia: pense aí se tu tens alguma pergunta.
E assim fomos, durante o jogo inteiro, nem ligando para faltas, escanteios, gols ou qualquer coisa que estivesse acontecendo na África (a copa é na África, ne?), o foco era o Brasil, mais precisamente o Pará.
Saí de lá com o "roteiro" do livro pronto e da viagem também.
Tem mais coisa ainda, mas só conto quando estiver na minha mão.
Centrifugue, que torcer é pra futebol, pra esse projeto dar certo preciso de centrifugação!

26/06/2010

muita emoção

Estou em Castanhal, num dos oito chalés super charmosos do Hotel Quinta das Alamandas. O hotel é da professora que me orienta na pesquisa, vim até aqui conversar sobre a pesquisa e ela fez questão que eu ficasse.
No quarto: internet, tv e uma cama (não uma beliche!) com lençois branquinhos, macios e super cheirosos. Um banheiro limpíssimo, só pra mim, e ainda por cima com chuveiro quente!!
MeoDeos, nunca pensei que pudesse vir a sentir tanta saudades da minha vidinha de garota paulistana classe média!

25/06/2010

Vai Brasil!!!

Chorar é como fazer cocô: fora de casa eu faço, mas não é a mesma coisa.
Sinto uma saudades imensa de tudo e de todos e às vezes me pergunto o que faço aqui quando as coisas não vão exatamente como esperava porque minhas expectativas são sempre maiores que a via láctea.
E essa merda dessa copa me atrapalha pacas, quando o Brasil desclassifica de vez, hein?

Cada um ama seu país da forma que pode, não é?

descoberta

Não existem doidos do bem, existe uma distância exata entre eu e cada doido para que as coisas não se compliquem. Como diz sabiamente meu pai: "de neuroses e loucuras já bastam as minhas!"

23/06/2010

Hoje completo 31 anos e o chef e a esposa dele estão empolgados querendo comemorar.
Já chamei alguns amigos que fiz aqui em Belém pra jantar aqui na casa deles, o cardápio é:
Vatapá do pará
Caribé (o consomê amazônico)
Peixe defumado no caldo de tucupi
E de sobremesa, compota de cupuaçu e compota de bacuri
Amigos paulistanos, podem babar, mas saibam que quando voltar vocês serão minhas cobaias.
Preparem o estômago.

22/06/2010

primeira aula

Às quinze pras sete da manhã de hoje estava no ver-o-peso fazendo meu dejejum com tapioquinha na manteiga e café com leite.
Descobri que eu já saquei algumas coisas fundamentais sobre os ingredientes daqui, porém não faço idéia de muita coisa ainda, na verdade diria que não faço idéia nem do tamanho da minha falta de idéia!
A coisa é grave, cada vez descubro mais nomes de plantas e mais peixes e mais técnicas...
Haverei de voltar aqui ao menos umas mil vezes pra aprender tudo, ou seja, uma façanha!

20/06/2010

Quando o avesso é o direito

Depois de passar anos na expectativa de estagiar numa cozinha que na minha cabeça era uma coisa mágica, encontrar aquilo foi um grande choque. Os cozinheiros usavam preparados Kinorr pra temperar o vatapá do pará, carnes, e frango. Três sabores de caldo Kinorr, dignos de foder de vez qualquer cozinha, ainda mais essa, que tem fama de fazer a melhor comida regional. E pra acabar de vez com todas as chances da minha parte de dar uma chance: a mais absoluta falta de segurança no trabalho, e uma mousse de graviola que voltou do buffet estragada foi direto pra geladeira, apesar dos meus avisos de que estava estragado - quando coloquei uma colherada na boca as bactérias ficaram todas felizes e ferveram na minha lingua quentinha e úmida. Como diria minha amiga Fabiana Vajman, "é de foder até o cu cair da bunda!".
Procurei desesperadamente a "orientadora" que, depois descobri, estava passando mal do estômago e não me respondia.

Pensei estar perdida, pensei que todo o tempo aqui foi perdido, desci as calças e pisei em cima de tanta raiva. Cheguei a comprar uma medicação calmante fitoterápica na quinta feira, tomei uns goles do vidro e me acalmei.
Resolvi aproveitar o sol na beira do rio, no máximo minha viagem ao Pará me faria levar boas lembranças: conheci gente interessante, fiz amigos, conheci lugares incríveis, comi coisas deliciosas e passei a creditar que as pessoas podem ser felizes - aqui as pessoas nitidamente são.

Foi quando encontrei, finalmente depois de muito procurar, o Chef Ofir de Oliveira. Ele retornou à cidade à pouco, estava cozinhando na Suíça e depois dando aulas em Santa Catarina. Marquei de jantar na casa dele. Ele cobra 65 reais por uma entrada, três pratos e sobremesa. Já havia ouvido falar e na verdade ele era um dos meus focos quando cheguei, porém o número de telefone que tinha dele estava desativado. Diante da experiência do chef, fiquei enlouquecida, finalmente havia encontrado a pessoa que me ensinaria o que preciso sobre a cozinha de raiz da região. Muito mais do que aprenderia dentro de um restaurante que tem que lucrar e portanto se perde nas releituras dos pratos regionais e ingredientes regionais com a tal "cozinha internacional".
Diante desse encontro, quase chorei, só não chorei porque estou sozinha aqui e não posso me dar ao luxo de "amolecer" assim.
Percebi que as coisas sairam muito melhores que o planejado inicialmente e que aquele restaurante hoje realmente só convence pessoas sem a menor referência da cozinha paraense.
Na sequencia, consegui contato com a "orientadora", que muito feliz em me ajudar, me recebeu em seu hotel, numa cidade que fica a 100km de Belém. Conversamos longamente sobre o projeto e ela me fez acreditar, sem dúvidas, que eu posso e devo escrever esse livro, e que isso é de grande valor porque é um resgate de um acervo que está esquecido e em breve morrerá de vez, assim como já aconteceu na cidade de Belém.
Percebi que precisava de alguém para fotografar essa pesquisa e com a ajuda de um amigo que não é fotógrafo, nem músico, nem cozinheiro, mas que é tudo ao mesmo tempo, faremos isso contecer. Já consegui outro amigo que é ótimo no photoshop e se ofereceu para tratar as fotos.

E as coisas estão tomando forma e dançando na minha frente como um balé, ou melhor, um lindo passo de carimbó.

19/06/2010

Manjar das garças

Manjar das Garças é um restaurante dentro do Parque ecológico Mangal das Garças
Apesar do restaurante levar a fama de fazer uma cozinha internacional se utilizando de ingredientes locais, diria que além de escassos, esses ingredientes ainda são muito mal utilizados, ao menos, no Buffet de almoço. Lá haviam mais de 25 pratos quentes, provei 8, já que apenas estes levavam um ou dois ingredientes regionais.
Gostoso mesmo estava o arroz de Santarém, uma espécie de baião de dois feito com o feijão manteiguinha de Santarém. Fora isso, apenas a língua guisada, bem ao estilo português, com queijo de Marajó salvou minha ida ao restaurante.
Razoavelmente gostoso estava o purê de batata com jambu, que com muito amido, fazia um grude no prato (totalmente estilo “viscoso mas gostoso”). Talvez tenha sido uma tentativa sem êxito de fazer um purê aligot - que é preparado de modo a desenvolver muito amido e com muito queijo até parecer um chiclete.
O palmito pupunha assado, pobre, foi apenas decorado com uma salsinha verde, desconfio que até sal esqueceram de colocar.
Camarão ao molho de ostras:  teria sido melhor descrito como “camarão ao creme de leite”
Também pude provar a primeira pescada que não consegui comer, ela vinha descrita como "pescada ao molho de manga": conseguiram deixar a pescada como uma palha de tão seca por causa da falta de molho no rechoud. Arrisco dizer que deveria se chamar “passado de manga em cubos”.
O arroz branco parecia ter sido cozinhado em água sem sal.
O filhote ao molho de alho poro e agrião estava ok.
No buffet de sobremesa, o único doce com ingredientes locais era uma compota de cupuaçu que estava bem honesta.

Tomei uma água 300 mL e no total com serviço (irritantemente atencioso), cobrado inclusive sobre o buffet, desembolsei R$52,47. Mais caro que duas diárias no Hostel em que me hospedo pra quem tem carteirinha de alberguista.

Hakuna Matata II, a missão

E esses últimos dois dias foram incríveis, e pela primeira vez dou graças às baratas e ao caldo Kinorr, porque não fosse a presença deles pra me desestimular totalmente do primeiro restaurante e partir pra vida, nunca chegaria aqui, prestes a iniciar um trabalho realmente original e relevante.

Hakuna Matata
É lindo dizer
isso é viver, é aprender hakuna matata
Hakuna matataaaaaaa...


Em breve mais explicações, por hora tenho que dormir.

16/06/2010

Hakuna Matata

O  legado de PM está se esvaindo.
Não vi nada ser feito como deveria lá hoje e olha que estou no berçário quando se trata da cozinha paraense.
O vatapá do Pará não estava 100%, o arroz paraense estava ruim, o pior que já provei na cidade, e está comprovado: qualquer barraquinha de rua serve uma maniçoba melhor.
Sinto no fundo do coração dizer isso tudo. Passei anos sonhando em estagiar nesse restaurante, e sei que ele é uma referência quando se fala em cozinha paraense, mas isso é pra estudante da faculdade, não pra mim. Sem querer ser pedante e já sendo, mas aprendi que eu sou mais que isso.
Enfim, diante da confirmação da orientação de uma professora de A&B, vou seguir a pesquisa sem continuar nessa cozinha. Acho que serei a única aluna da pós graduação sem ter graduação e isso é no mínimo inusitado.
O fato é que hoje trabalhei como ajudante de cozinha, e não vi nada especial, ao contrário. Não posso me submeter assim num lugar que não me ensina o melhor e ainda tem baratas passeando por todos os cantos da cozinha. Eu não tenho preconceitos, sou do time do Antony Bourdain, que em Cozinha Confidencial diz: "seu corpo é um parque de diversões e não um templo a ser cultuado". Se realmente valesse a pena, as baratas seriam só mais um motivo pra eu contar histórias engraçadas durante a cerveja com os amigos.
“Hakuna Matata! Viscoso mas gostoso”, lembra?
Não quero perfeição, não sou perfeita, passo longe, mas não posso pagar pra não aprender. Pago estadia, alimentação e passagem do meu bolso e além de tudo estou longe da minha família e morrendo de saudades, diga-se de passagem.
O legado dele está se perdendo e se existe uma coisa que aprendi nessa vida é correr antes que o teto caia sobre minha cabeça!

Mamãe, quando crescer quero ser Alex Atala

E a garota paulistana, que sequer conseguia ir ao cinema sem companhia em São Paulo, está há mais de uma semana sozinha em Belém do Pará. Hospedada num Albergue da Juventude num quarto comunitário, tomando banho frio (também não conseguia tomar banho frio ainda que fizesse 45graus), e o melhor de tudo: feliz!

Hoje é meu primeiro dia de estágio no restaurante do chef que ensinou cozinha paraense ao A.A - me incomodo de chamá-lo somente por Atala ou Alex, então passei a abreviar, é engraçadinho e ainda soa como uma certa intimidade.

Me desejem sorte!

15/06/2010

Todos os dias, desde que pisei em Belém, dia 30 de Maio, descubro uma série de ingredientes novos e de pratos novos que não tinha visto nem ouvido falar.
Todos os dias alguém me fala de um peixe que ainda não fotografei, e olha que passei duas manhãs fotografando peixes no mercado ver o peso desde às 5hs. Vi as barracas serem "montadas", a chegada dos peixes, os pescadores negociando com os comerciantes... 
Conversei longamente com um pescador e com três irmãos donos de uma barraca de peixes. Os "meninos" foram super legais e me levaram à feira do açaí, me mostraram os temperos e ofereceram me levar ao interior pra ver uma "casa de farinha", que é onde se transforma a mandioca brava em tucupi, goma e farinha. Diante da confirmação que teria que fazer a viagem na garupa da moto de um deles, desisti.
Correr riscos não é sinônimo de aventura e minha curiosidade por  mandiocas (apesar de gostar muito) não chega a tanto.

Não existe maneira de descrever a cozinha paraense a não ser resumidamente dizendo que ela é um mundo a parte, desses que você só imagina achar bem longe, no oriente.
Uma abundância de ingredientes e técnicas, uma complexidade de novos sabores e aromas que nunca provei antes, e olha, que sou do tipo que come até pedra se disserem que é gostoso, claro que depois constato que pedra é horrível, mas até lá quebro os dentes com a pedra tentando achar porque me disseram que é bom!
Ainda não tenho noção da maior parte das coisas, mas olhando daqui tenho a forte impressão que a população indígena tinha tanta abundância de alimentos em suas terras que pôde se dedicar às técnicas de cozinha.
Da mandioca brava lavada e ralada através do tipiti (foto ao lado) se extrai o tucupi , que precisa entrar em ebulição pelo menos duas vezes, pra perder o ácido cianídrico, que se estiver lá, mata! No fundo dessa panela fervendo se formará a goma, usada no tacaca e que depois de seca também vira farinha de tapioca. A mandioca que sobra ralada e espremida dentro do tipipi vira farinha, precisa ser torrada por horas numa grande chapa de ferro com a ajuda de uma espécie de rodo, a farofa feita dessa farinha é uma coisa fabulosa!
Hoje fui ao Pier 47, um restaurante que fica num naviu no complexo Ver o Rio.
Comi um prato incrível, pirarucu de casaca.
E claro, não pude deixar de provar a maniçoba, que estava bem gostosa, mas a vencedora até agora é a da chef Adriana do restaurante Beto Grill, Um amor de pessoa (como todo belenense!) que tive a oportunidade de conhecer ontem.


14/06/2010

Da hospitalidade de Belém do Pará

É impressionante, mas por onde quer que você vá nesta cidade as pessoas te acolhem, te ajudam, te orientam.
Ficam extremamente lisonjiadas porque minha vinda ao Pará é uma busca pela cozinha brasileira. Adoram quando brinco dizendo que não vou mais embora, que essa cidade é incrível... Elas realmente querem que você fique. Bem parecido com aquela cidade que eu nasci... como é mesmo o nome, cara pálida??
Enfim, eu achei que ia morrer de calor, tédio e solidão numa viagem que a princípio já se extende em mais de um mês. Saudades eu tenho, muita, mas estou feliz aqui e sinto que passarei a sentir saudades daqui quando voltar.
Comecei a estabelecer vínculos, fiz amigos, assim como quem tropeça na rua.
E só de sair na rua vou cada vez mais conhecendo gente que se comove com minha busca e tenta me ajudar de todas as maneiras.
No primeiro dia um grupo de pessoas que conheci enquanto assistia ao ensaio do Arrastão do Pavulagem, me levou num restaurante de comida regional frequentado pelas pessoas da cidade. Comi um caranguejo com farofa de ajoelhar e pedir mais. Só que no caso, aqui é tudo tão bem servido que não dá pra pedir mais, simplesmente não cabe no meu estômago.
Já engordei e tive que comprar roupas aqui, já que as minhas (vindas do "exterior," além de nada adequadas ao clima, ainda que curtas) não me servem mais.
No segundo dia esse grupo me chamou para o "namorado oculto". No dia 12 eles fizeram um esquema amigo secreto entre eles que estão solteiros ou que estão com seus cônjuges longe. Eu entrei e foi divertidíssimo. E me sinto acolhida e amada como se estivesse entre amigos de muitos anos! As pessoas se preocupam com você, querem ter certeza que você está bem, são generosas. Espécimes raros na selva de pedras.
Consegui o contato de uma professora de alimentos e bebidas do curso de turismo de uma faculdade daqui que vai me "orientar" na pesquisa, o contato veio através de duas professoras da UFPA que conheci no meio da multidão acompanhando o Arrastão do Pavulagem. Quando é que você faz amigos no metrô de São Paulo??
Conheci uma chefe de cozinha de um restaurante regional bem legal e ela já me passou os contatos, quer conversar, sair pra comer.
As pessoas aqui não tem medo de se apegar, de fazer amizades, de trocar experiências, de ajudar as outras pessoas.
Belém do Pará tem identidade, se orgulha do que é, tem na tradição essa coisa do acolhimento, e acredito que por isso as pessoas são super legais quando descobrem que alguem veio conhecer o que é deles - e que é muito incrível, quero frizar.

Das coisas que deveriam ser ruins

Acabo de sofrer uma tentativa de assalto em Belém do Pará.
Dei com a sombrinha no "assaltante que veio com as duas mão abanando e dizendo "passa tudo, é um assalto! assalto! assalto!". Já pronta pra correr, quem saiu correndo foi ele.
É que eu tenho toda essa cor do verão e sou confundida, acham que sou gringa, ainda mais porque ando por aí feito imbecil olhando as construções que aqui são lindas e em sua maioria tombadas.

O albergue em que me hospedo é uma dessas casas tombadas, pé direito de milhões de metros, portas enormes, janelões... Linda.
Eu sei que prometi não falar mais mal de Belém, mas os assaltantes aqui são muito amadores, eles correm depois que você mostra que não vai entregar nada. Precisam fazer um estágio em São Paulo, né cara pálida?

Açaí - versão remasterizada

Sábado fui ao Point do Açaí decidida a comer peixe com açaí. Queria achar um lugar menos turístico, e descobri que o Point do Açaí apesar de ter sua filial no "Estação das Docas" ainda é na verdade um bom restaurante local onde os paraenses frequentam e por sinal falam muito bem. A matriz fica na cidade velha. É aquele meu preconceito que no final muitas vezes me salva: o Point do Açaí no "Estação das Docas" é um lugar turístico, provavelmente o cozinheiro do restaurante matriz, que ainda é frequentado por pessoas locais, é melhor do que o cozinheiro do restaurante no local turístico. Por isso eu e Vera (uma amiga que fiz no albergue em que me hospedei na foto aí ao lado) camelamos quilometros até a cidade velha atrás do tal peixe com açaí. Comemos a pratiqueira frita com açaí que vem acompanhada de arroz, farofa e vinagrete - chegando aqui percebi que o vinagrete apesar ser apenas um acompanhamento é uma das grandes expressões da cozinha brasileira, que com leves variações, é o mesmo de Norte a Sul do país. A pratiqueira é um peixe pequeno que se come bem fritinho e quase não sobra nada. Pra falar a verdade ela é um peixe pra ser comido por quem tem "experiência" no assunto. Pessoas que ficam muito incomodadas com espinhas de peixe devem evitar. Mas se você está disposto a experiências novas vai perceber que as espinhas são pequenas e mastigáveis, comemos da cabeça ao rabo deixando apenas a parte mais grossa da espinha dorsal do peixe, simplesmente delicioso! E com o açaí ele fica melhor ainda. Por fim percebi que mandei ver o peixe com o açaí e restou o arroz e a farofa que vieram de acompanhamento. Resolvi provar entao uma garfada de arroz e farofa e acabei por lamber o pote. Uma delícia!
Restou anda um pouco de açaí na garrafa que comi de sobremesa com açucar e tapioca. Depois de comer açaí fica-se com os lábios bem roxos e os dentes também. Ao fim da refeição eu parecia uma criança que nunca viu doce na vida, tive que ir ao banheiro tomar uma espécie de banho de pia, praticamente mergulhei no açaí e manchei o vestido novo que comprei aqui, mas valeu a pena. Esta foto ao lado é depois do semi-banho.
Hoje pretendo ir mais além, vou comer peixe com açaí  nas barraquinhas do mercado ver o peso.
Programa típicamente paraense.

E pra finalizar mais um pouco da história do açaí, que no interior se chama "iaça".
Depois de colhido durante a noite pra não secar ao sol, é processado nessas máquinas como na última foto, ou também na mão para consumo próprio nas comunidades ribeirinhas. O paraense come açaí durante as refeições. Há quem diga que não consegue comer sem o açaí como acompanhamento. Compreensível, já que ele é realmente delicioso, o verdadeiro, claro.

13/06/2010

Arrastão do Pavulagem

Eu fui lá hoje e foi incrível!
Segui o arrastão com mais umas 6 mil pessoas até a praça da Republica, que foi um cemitério de escravos e hoje tem uma feira de artesanato das mais bonitas que já vi.
Minha bateria acabou e não consegui fotos do show nem fotos minhas dançando o carimbó.
Acredite eu aprendi a dançar o carimbó!









 E olha o booooooooi!!!




Dia incrível!

Para saber mais, clique aqui
Abaixo o atestado de presença

11/06/2010

Das maravilhas de Belém


Como o prometido, vou começar a contar as coisas boas dessa cidade incrível que é Belém do Pará.
Do meu ponto de vista (levando em conta que sou uma cozinheira absolutamente apaixonada pelo ofício) a melhor parte da cidade é o mercado ver-o-peso.

Basicamente tudo o que se extrai da Amazônia passa por lá até chegar ao consumidor final. Desde o açaí até os produtos derivados da mandioca amarela.
Também existem as famosas garrafadas, que fazem milagres como curar dor de corno, olho gordo ou insônia.

O Açaí


Quando dei a primeira colherada num açaí em Belém do Pará percebi que fui enganada até agora. O açaí tem um sabor forte, marcante, delicioso e além disso é líquido! Aqui as pessoas comem com farinha de tapioca, alguns colocam açúcar, outros apenas a tapioca ou até mesmo a farinha de mandioca amarela que por sinal é incrível, mas fica pra outro texto.
Ele é extraído pelos caboclos das comunidades ribeirinhas e chega à feira do açaí para ser comercializado pela madrugada num espaço ao lado do ver-o-peso.
Daí paulista pensa: paraense é tudo maluco, uma feira que começa meia-noite e termina às cinco da manhã!!!
Não, cara pálida, o açaí não pode pegar sol, ou fica seco e não dá sumo.
O açaí é uma frutinha que dá numa palmeira que quase entrou em extinção nos anos 90 por conta da extração de palmito juçara. Isso aí, o açaí é o fruto da mesma palmeira que cortada é o palmito juçara que o brasileiro adora na empadinha.

Não sei quem foi esse marqueteiro do bem que implantou a moda do açaí no país, mas ele merecia o premio Nobel. Ele salvou a palmeira da extinção e ainda fez com que a comunidade ribeirinha ficasse praticamente "rica"! Um quilo de açaí chega a custar 60 reais fora da época.
Por sua vez, as igrejas evangélicas atacaram. Num breve passeio de uma hora de barco pelas comunidades ribeirinhas pude flagrar duas igrejas evangélicas construídas sobre palafitas e uma em Boa vista do Acará que já é terra firme amazônica.
A época do açaí começa agora, junho até setembro. Já ouvi de uns três paraenses que se eu gostei do açaí no fim de maio vou pirar quando tomá-lo em julho.
Vamos aguardar.
Ainda não comi peixe com açaí e outras iguarias que pra quem não é do Norte soam como bizarrices, espero fazê-lo até o fim da minha estadia aqui. Relatos em breve.

O Cupuaçu

A polpa de cupuaçu que comemos no sudeste não é cupuaçu, depois de assuntar por aqui descobri que muitos dos produtores de polpa misturam jaca e banana na polpa para render e mandam pra outros estados onde o povo não conhece o sabor.
O cupuaçu tem um sabor incrível e aqui é ingrediente de vários doces regionais, como Maria Isabel, Rocambole de cupuaçu e ate mesmo pratos com peixes e camarão levam cupuaçu.
Ouvi dizer que existe uma maneira de secar o cupuaçu e transformá-lo uma espécie de chocolate, porém não consegui nem se quer comer o tal “chocupuaçu” (se não existia esse nome, acabo de inventar), muito menos ver como se faz.
 
Pra encerrar esse post (que está na hora do jantar e eu não perco uma oportunidade se quer de comer nessa cidade) em São Paulo nunca mais conseguirei tomar açaí ou suco de cupuaçu novamente.
A ignorância é mesmo uma benção!

Minhocas

E eu enrolo feito minhoca pra escrever porque não faço patavina de onde começar.
A Amazônia é um mundo a parte, me sinto a própria extra-terrestre. Se tivesse a pele verde talvez não fizesse tanto alarde no meio do ver-o-peso - o mercado local, por onde passa tudo que é extraído das matas para chegar à Belém.
É tanta coisa nova, tanto nome novo, que acho que vou começar dizendo meu próximo destino:



São Gabriel da Cachoeira, município mais ao norte do estado do Amazonas.
Dona Brazi, uma cozinheira local, vai me receber em sua cozinha e me ensinar a comida indígena do alto do rio negro.
O traço vermelho é uma linha comercial, Belém - Manaus, o branco é feito por uma linha particular, custa os olhos da cara e viaja-se de teco-teco.
Outra opção é me enfiar num barco em Manaus e levar de 3 a 4 dias pra chegar em São Gabriel da Cachoeira.

Torça por mim, se quiser, centrifugue pra ser mais eficaz.
Enquanto isso preparo meu texto sobre o ver-o-peso...

09/06/2010

o que não fazer em Belém ou ééégua, não sabia que era assim!

Antes de mais nada quero falar mal de Belém do Pará.
Não que a cidade seja ruim, ou contrario, essa cidade é incrível, porem um paulista acaba por estranhar um pouco. E assim, a paulista aqui desabafa e fala só das coisas boas a partir do próximo post, certo?

Pra começar, tome muito cuidado no trânsito, principalmente andando a pé. Bicicleta? Nem sonhe com isso.
Saindo do aeroporto, vendo essa cidade super plana, logo pensei: que imbecil!!! Por que não embarquei com minha bicicleta??
Depois de alguns minutos andando nas ruas de Belém entendi que se eu quiser voltar viva e com todos os ossos inteiros é melhor andar a pé mesmo.
Bem, pra começar, olhe SEMPRE para os dois lados ao atravessar a rua.
Aqui, mais que em São Paulo, não existe preferencial e muito menos para pedestres, cuidado!
Ao andar na calçada também fique atento, os bicicleteiros de Belém (pra chamar de ciclista tem que nascer de novo) não sabem bem por onde andar e acabam na calçada, por vezes, em cima dos pedestres.
Ao tomar um taxi, prefira os taxistas com cara de taxistas, sabe aqueles que em São Paulo você evita porque tem cara de malandro? (eu adoro e cultivo meus preconceitos, tá?!) Aqui eles são os caras que vão te levar em segurança ao seu destino, sem entrar em vias na contra-mao, sem olhar pra você no banco traseiro enquanto guiam, sem errar a troca de marcha... Enfim, evite os tios com cara de bonzinhos e senhores mais velhos, eles não costumam ser confiáveis aqui em Belém.
Ao sentar em um restaurante, certifique-se que você tem tempo disponível para usufruir de uma refeição que com certeza vai demorar no mínimo 30 minutos pra chegar. Se estiver com muita fome, esqueça, não existe entrada rapidinha, espere dez minutos por um suco que possa tapear sua fome até dali meia hora!
O tempo em Belém do Pará é mais lento que em São Paulo, as pessoas no transito até demoram mais a buzinar quando alguém empaca no sinal verde, o que acontece muito.
Você vai engordar vários quilos em Belém do Pará, mas o motivo disso eu vou contar nos próximos posts, que é a melhor parte da cidade!