14/10/2010

Diário de uma hipocondríaca

Acabo de ler um capítulo inteiro sobre insetos amazônicos a procura de algo na alimentação tradicional cabocla da Amazônia Oriental. Não descobri nada além do que já sabia, porém me coço inteira como se estivesse sendo atacada pelos insetos bizarros descritos no livro, e tenho tosse, como se minha garganta estivesse se fechando por alergias às picadas imaginárias.
Não quero nem pensar na fase seguinte da pesquisa: campo.

12/10/2010

Sexta-feira antes do Círio de Nazaré aprendi uma coisa muito importante: não preciso passar por otária em lugar nenhum nesse mundo.
Belem é repleto de mototaxis e aquele dia eu peguei um pra atravessar 3 bairros da cidade, sendo que a cidade inteira equivale à uns 5 bairros de São Paulo mais ou menos.
Apesar de ser a capital do Pará, Belém é um ovo, de codorna.
Tomei o mototaxi no bairro do Pedreira pra ir até o Bairro do Nazaré, no máximo quatro quilometros de distância, sendo generosa.
Entre perguntar se o mototaxista estava livre, colocar o capacete e subir na moto eu perguntei três vezes quanto sairia a corrida. As mototaxis não tem taximetro, creio inclusive que não são regulamentadas, ao menos esta que peguei não era. Ele não disse e eu não quis subir na moto até que ele disse com ênfase: "Não vou lhe cobrar a mais não!". Dei-lhe o benefício da dúvida e subi na moto, mas avisei lembrando dos ensinamentos de minha avó: "moço, o combinado não sai caro, hein?"
Eu já sabia que ele tentaria me extorquir e no caminho tentei fazê-lo desistir do plano inicial. Fui muito simpática, contei que sou cozinheira, que estou trabalhando aqui e não disse nada quando o desgraçado encostou desnecessáriamente a mão no meu joelho pra fazer pose pro amigo que encontrou no faról. Perguntei sobre a vida dele, perguntei da romaria dos motoqueiros, contei que estou ansiosa pra ver essa santa passar e que conheço bem a cidade porque já passei três meses aqui trabalhando.
De nada adiantou, chegando ao destino o desgraçado me pediu 15 Reais, o preço de um taxi comum, ainda dizendo que estava cobrando bem barato. Eu disse pra ele que eu sou branquela e tenho cara de turista mas que não sou otária, e sabia que de um extremo ao outro da cidade não chegaria a dez reais. Ele disse que estava enganada e reafirmou sua benevolência me pedindo 15 reais que segundo ele era uma bagatela, um super desconto, porque eu sou uma "moça bacana".
Nessa hora eu peguei quatro reais da minha mochila, calmamente lhe entreguei e utilizando todo linguajar paraense que consegui aprender até hoje disse:  "lhe avisei que o combinado não sai caro, maninho, te fodeste!"

06/10/2010

Belém está com um clima alegre, o Círio de Nazaré começa essa semana e pro paraense essa festa é mais importante que o Natal.
A partir dessa semana começam as romarias, tem a romaria fluvial, a romaria dos carros, a romaria dos motoqueiros, e até a romaria das bicicletas... Se me chamarem pra ver a romaria dos carrinhos de supermercado não vou estranhar.
Sábado é dia da trasladação da santa, dia de festa da chiquita (a festa dos gays, transexuais e outros excluídos pela igreja) e pra mim, dia de fotografar tantos patos, maniçobas e tartarugas (sim, consegui uma pessoa que vai fazer uma tartaruga no Círio!) quanto meu par de braços e olhos puderem!
Tem fogos de artifício, chuva de papel e mar de gente segurando uma corda que conduz uma pequena santinha, imagem de Nossa Senhora de Nazaré, dentro da berlinda.
Nada disso me parece fazer sentido, mas a galera aqui leva à sério esse negócio, diz que faz a terra tremer e até ateu chorar com a energia de mais de dois milhões de romeiros que seguem a procissão embaixo de um sol de 40 graus, muitos descalsos puxando a corda num caminho de mais de quatro quilômetros. As família vão juntas pras ruas ver a santa passar, agradecer pelas graças recebidas e pedir por um novo ano próspero.
No mínimo é uma bela injeção de cultura paraense direto na veia.