28/09/2012

Alter do Chão


Alter do Chão é um lugar muito especial. Tem qualquer coisa mágica nessas águas do Tapajós. As crianças daqui são lindas, correm livres e felizes pelas ruas e praias. Pais despreocupados com suas crias tocam seus negócios de bermuda e camiseta enquanto as crianças brincam perto das lojas/restaurantes. Há muitos turistas mas eles parecem ser o mal necessário do vilarejo. Uma vida multicultural e multirracial se instalou aqui. Tem índio Borari e os caboclos descendentes dos índios, tem alemão, espanhol, chileno, uruguaio, colombiano, suíço e até japonês. Aqui tem de tudo um pouco. 
Ontem fomos numa noite cultural no Candeeiro, o restaurante de um alemão (ou suíço, não sei ao certo) onde uma espanhola cozinhou e tocou flamenco e uma chilena dançou. Nunca na minha vida eu esperei ver uma noite cultural espanhola no interior do Pará, mas aqui em Alter tem tudo, tem vida, tem amor. Os filhos dos donos do restaurante vieram falar com Nuno, eles pegaram nas mãozinhas dele e olharam fundo nos olhos, não disseram nada, mas com os olhos parecia que queriam dizer “bem vindo”. Nuno tentou comunicação verbal, fez lá seus barulhinhos e abanou os bracinhos. Eles ficaram horas assim, se olhando. As crianças ofereciam o lápis de cor que estavam brincando a ele, ele segurava e largava logo fazendo sinal de que queria pegar outro. E assim ficaram quase a noite toda...
Eu tinha ido ao Candeeiro com Renata (que estava fazendo aniversário), a moça que me recebeu aqui em Alter, amiga de uma das meninas da Materna SP, Anne (que acabou de parir o Francisco) e magicamente na mesma mesa estava outra pessoa que outra das maternas tinha passado o contato, mas que eu nunca liguei, Kandy, que é amiga da Gabi (materna) também é amiga da Renata. E ainda na mesma mesa estava uma bailarina que mora em Lisboa, assim como minha prima portuguesa, Andréia também bailarina e também moradora de Lisboa. Ela não sabia ao certo, mas quando falei o sobrenome ela logo disse que sabe quem é. O mundo é mesmo um limãozinho galego! E esse vilarejo é mesmo Pai d’Égua!

a volta


Finalmente em Alter do Chão, um ano depois do planejado.
Engravidei em setembro de 2011, quando estava com passagem marcada pra Santarém. Eu enjoava horrores, vomitava o tempo todo, por onde ia tinha que levar sacos plásticos para os vômitos compulsivos. Perdi a passagem e fiquei cuidando da barriga que crescia (e ela ficou enorme) e eu pari meu filho no aconchego e respeito do meu lar, com apoio total do meu amoe e grande parceiro de vida, Rafa. O parto foi assistido por uma obstetriz, a querida Ana Cris Duarte e pela minha querida doula e também madrinha do meu filho Mariana de Mesquita. O pós parto foi tão bom quanto um pós parto pode ser.
Agora meu filho está com quatro meses, lindo e gordo, pesando mais de 9kg apenas de leite materno. Muito planejamento, uma tentativa de embarque frustrada por conta de uma febre misteriosa do Nuno, adiei a viagem mais uma vez, mas duas semanas depois consegui embarcar, feliz por estar voltando oficialmente ao trabalho. Com uma mala enorme emprestada da minha sogra - a maior mala que já carreguei na vida – e tantas coisas nela que parece exagero, mas “melhor prevenir que remediar”, não? Trouxe três redes, cordas, corda para varal pra estender roupas, balde de banho dele, um rabo quente pra aquecer água pro banho (aqui todos os chuveiros são duchas simples sem aquecimento), muitas roupas (muitas mais do que o necessário, já que estou lavando as que usamos e no final usamos pouca roupa mesmo devido ao calor), 16 fraldas de pano com seus respectivos recheios, muitas fraldinhas Cremer pra garantir... Um verdadeiro exagero, mas me senti melhor por cometer o exagero, ou sairia de são Paulo com aquela terrível sensação do “estou esquecendo algo muito importante e vou morrer sem isso!”, eu sou dramática.
Anne, do Francisco, uma das maternas, me passou um contato aqui em Alter, Renata, um moça linda e atenciosa, me recebeu de braços abertos e já me apresentou pessoas para entrevistar pro trabalho. E as coisas que estavam super nebulosas começaram a clarear. Já entrevistei um senhor que é o capitão do Sairé, uma festa que acontece por aqui há mais de 300 anos e tem uma bebida feita da mandioca, a tiquira.
Até agora tudo vai bem, Nuno está ótimo, dorme muitas vezes no dia e a noite toda até de manhã cedo. Não senti necessidade de uma babá, mas já tenho pistas pra achá-la se achar necessário em algum momento. E assim vamos, slingando por Alter do Chão, chamando atenção de turistas e moradores que ainda se comovem vendo uma mãe e seu bebê tão ergonomicamente juntinhos e felizes caminhando pelas praias do Tapajós.