04/11/2010

Felicidade

Eu tinha onze anos e voltava do colégio sozinha quando um carro entrou na contra-mão e quase me atropelou. Gritei um sonoro "imbeciiiiilll" e mostrei-lhe o dedo do meio - tive uma educação britânica.
O carro parou e eu entrei em pânico vendo que o motorista viria tomar satisfações. Do outro lado da rua vinha um garoto da minha sala, de pronto gritei o nome dele e acenei indo na direção da rua, ele atravessou a via e parou na esquina em que eu estava. Em pânico, segurei a mão dele, e antes que eu conseguisse contar o que estava acontecendo, o motorista, que era uma mulher descabelada e nítidamente na TPM, berrava tomando satisfações. Paralizada de medo, pedi desculpas, mesmo eu estando na faixa de pedestres e ela na contra-mão.

Ela berrava algo como: "vocês são todas assim, na hora do vamos ver correm pra eles, não sabem ser pessoas, não sabem ser mulheres, não sabem viver a própria vida!! ..."
E sem querer essa mulher mal-amada, desabelada e tepeêmica me salvou.
De alguma maneira esse episódio começou um processo em mim.
Foram longos anos pra conseguir reverter esse comportamento e me libertar definitivamente dessa figura masculina protetora, seja ela meu pai, namorado, marido, chefe...
Sei que hoje, finalmente, posso me lembrar disso e saber que sou a única responsável pela minha vida. Sou eu que dito as regras, erro ou acerto, não importa, o que importa é que vou com minhas próprias pernas.
E se isso tem um nome aposto que é felicidade!

2 comentários:

  1. como sempre... adoro ler seus posts.
    continue, continue!!!

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  2. Prima, amei esse post... Mas quem era essa vaca? haha, bj Cy

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